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    Carlos Heitor Cony

    Ensaio geral

    17/11/2015 02h00

    RIO DE JANEIRO - Antes de cada partida, ainda nos vestiários, os jogadores fazem o aquecimento individual ou coletivo, preparam músculos, tendões e reflexos para a luta. Um jogo como Fla x Flu ou Corinthians x Santos é comumente comparado com uma guerra. Isso sem falar no boxe, onde o aquecimento é mais radical.

    Desde 1945, quando terminou o último conflito mundial, apesar das inúmeras e dramáticas guerras localizadas, não tivemos realmente um confronto de nível global, como em 1914-1918 e 1939-1945.

    Quando os terroristas atacaram as torres do World Trade Center, observadores mais atentos consideraram que a Terceira Guerra Mundial não fora começada, mas o aquecimento foi tal e tanto que deu a sensação de um ensaio geral. Seguiram-se vários e sangrentos "aquecimentos" em diversas regiões da Terra, que de uma forma ou outra foram absorvidos por conveniência ou tática para manter em nível razoável a paz no mundo.

    O atentado terrorista em Paris, na semana passada, e os posteriores ataques aéreos dos Estados Unidos e França a alvos do Estado Islâmico são aquecimentos, ensaios ainda não gerais, para a partida de uma nova guerra colossal, que incluirá disputas territoriais e de influências políticas e financeiras, sem esquecer os ressentimentos ideológicos e, em grau menor, os religiosos.

    O diferencial é o poderio atômico de uma das partes, e o estágio nuclear do Irã, ainda não definido. Num prognóstico amadorístico, a partida será, grosso modo, entre árabes e não árabes, ou simplificando ainda mais, entre Ocidente e Oriente. Os dois lados não são inocentes.

    Em 1946, numa aula ao vestibular da PUC/RJ, um professor (posso estar enganado, mas seu nome era Papini) disse que Hitler foi o último herói do Ocidente, o bastião da civilização ocidental. Não me agrada, antes me repugna, fazer parte de tal Ocidente.

    carlos heitor cony

    Escreveu até dezembro de 2017
    carlos heitor cony

    É membro da ABL. Começou sua carreira no jornalismo em 1952 no 'Jornal do Brasil'. É autor de 17 romances e diversas adaptações de clássicos.

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