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    Carlos Heitor Cony

    Contra e a favor

    12/01/2016 02h00

    RIO DE JANEIRO - É comum o cronista receber mensagens de leitores criticando o horror que ele expressa pela humanidade. Condenam o pavor que dedico aos homens, mulheres e instituições.

    Vamos com calma. É verdade que não aprecio guerras, fome, epidemias, delações (premiadas ou não), impostos, falas de dona Dilma e promessas do PT. Detesto as barraquinhas que vendem o angu do Gomes. São manifestações criadas e aceitas pela humanidade.

    Daí não se infere meu desapreço total pela reunião arbitrária de homens, mulheres, velhos, jovens, héteros e homossexuais. Até que essa turba inventou e aperfeiçoou coisas magníficas, como a guilhotina, os bandeirinhas de futebol, a Coca-Cola, o abridor de latas de sardinha e o Melhoral, que é melhor e não faz mal. Isso sem falar nas pílulas para as mulheres e no Viagra para os homens.

    Houve um imperador romano, dono do mundo e senhor absoluto de quase todos os povos. Enfastiado do poder, abandonou os mármores de Roma e foi viver em Capri, uma ilha na costa italiana banhada pelo mar Tirreno. Mesmo assim, mantendo com a capital do mundo uma eficiente rede de comunicação, dispensando a ajuda tecnológica da internet, continuou enfastiado do poder e desejava que todos os seus súditos tivessem uma só cabeça em cima do pescoço. Num único golpe de espada decapitaria todos, de uma só vez.

    Prometo àqueles que me julgam um monstro que odeia a humanidade que nunca seguirei o bom exemplo do imperador romano. Tampouco seguirei o exemplo de Jesus Cristo: "Vinde a mim todos os que sofrem, eu os aliviarei".

    Entre o imperador romano enfastiado e o salvador anunciado, ficarei comigo mesmo. Não matarei nem salvarei ninguém. Nem mesmo a mim, que tanto preciso de salvação.

    carlos heitor cony

    Escreveu até dezembro de 2017
    carlos heitor cony

    É membro da ABL. Começou sua carreira no jornalismo em 1952 no 'Jornal do Brasil'. É autor de 17 romances e diversas adaptações de clássicos.

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