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    Carlos Heitor Cony

    Realmente, nunca houve

    17/01/2016 02h00

    Somente um imbecil poderia afirmar que a esquerda chegou ao poder. O governo do PT é, em muitos sentidos, uma confusa colcha de retalhos, e faltando a costura interior, adotou um desenho eminentemente conservador.

    Mas há esquerdistas no poder, isso é evidente, alguns deles sérios, provados e comprovados na prática política dos últimos anos. São, por sinal, os mais humildes, os menos espalhafatosos, os que mais trabalham - ou começaram a trabalhar.

    Evidente que, no governo central e pelos estados afora, os nomes que mais buscam o noticiário - em diligente aproximação com jornalistas, colunistas e pessoas da área artística - são os esquerdistas de salão, os progressistas de coquetel. Uma raça, por sinal, que guarda admirável coerência em termos de badalação, pois conseguiu atravessar 21 anos de autoritarismo na mesma base de salões e coquetéis.

    Lembro a noite em que, nos idos de 1965, juntamente com outros jornalistas e escritores, fomos recolhidos ao batalhão da Polícia do Exército. Soubemos mais tarde, pelo testemunho das folhas, que foram promovidas reuniões as mais extravagantes. Em nome da causa, organizaram-se comes e bebes, chegaram a armar um show de solidariedade no qual brilharam atrizes e atores que, no fundo, julgavam-se ofuscados pela discutível e provisória glória que nos fora atribuída.

    Esta turma, ou parte dessa turma, chegou ao poder, mas ainda não conseguiu ir além do óbvio: entrevistas, generosos espaços na mídia. E é o que realmente pretendem. Alguns chegam a trabalhar, mas de forma errada, em contradição com as causas que defenderam.

    Além disso, habituaram-se a uma corrupção que nunca houve igual. Estou parafraseando a famosa frase de Lula: nunca houve tamanha corrupção que está transformando o Brasil num país pré-falimentar e ridículo.

    carlos heitor cony

    Escreveu até dezembro de 2017
    carlos heitor cony

    É membro da ABL. Começou sua carreira no jornalismo em 1952 no 'Jornal do Brasil'. É autor de 17 romances e diversas adaptações de clássicos.

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