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    Carlos Heitor Cony

    Uma tragédia que poderia ser evitada

    04/12/2016 02h00

    RIO DE JANEIRO - Nunca uma causa banal provocou uma comoção generalizada em quase todo mundo. Não adianta procurar ou punir culpados —pelo menos até agora não se pode atribuir o desastre do Chapecoense ao imperialismo americano, ao Estado Islâmico e à turma do Lava Jato.

    Quando foi aberto o complexo do túnel Rebouças (quatro galerias ligando a zona sul à zona norte), o governo do Rio de Janeiro colocou caminhões-pipas com gasolina para atender os carros que, por isso ou aquilo, ficavam sem combustível e provocavam grandes acidentes.

    Evidente que isso não podia ser aplicado ao tráfego aéreo e o abastecimento no ar só é possível em casos de guerra ou exercícios aeronáuticos. Mas é inegável que houve culpa do piloto ou da estrutura do aeroporto de partida.

    O pessoal de terra não abasteceu devidamente o avião sinistrado, o plano de voo era falho e, finalmente, o piloto não levou em conta o marcador de combustível bem à sua frente, no painel que orienta o voo.

    Luis Acosta/AFP
    Torcedores do Atlético Nacional e população colombiana lotaram o estádio do clube e seu entorno para homenagear os mortos no acidente aéreo que vitimou o elenco da Chapecoense
    Torcedores lotaram o estádio do Atlético Nacional para homenagear as vítimas do acidente aéreo

    Esse é o lado triste que precisa ser investigado. Não se pode dizer que houve um lado bom no desastre do Chapecoense.

    Contudo, ao lado da comoção provocada pelo acidente, o episódio também comoveu todos aqueles que, independentemente de nacionalidades, religiões e preferências esportivas, foram brutalizados pelo acidente na Colômbia.

    Do Papa até o humilde operário das ruas, todos ficaram emocionados com a tragédia, uma tragédia estúpida que matou 71 pessoas, na maioria jovens atletas que se iniciavam na vida profissional.

    A multidão de colombianos que compareceu ao estádio em Medellín demonstrou que nem tudo está amortecido na alma humana. Um erro banal, que não se sabe ainda de quem, provocou não apenas uma tragédia, mas um momento de solidariedade afetiva e comovente.

    carlos heitor cony

    Escreveu até dezembro de 2017
    carlos heitor cony

    É membro da ABL. Começou sua carreira no jornalismo em 1952 no 'Jornal do Brasil'. É autor de 17 romances e diversas adaptações de clássicos.

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