• Colunistas

    Monday, 06-May-2024 00:22:15 -03
    Carlos Heitor Cony

    O grande deserto

    09/04/2017 02h00

    Jim Zuckerman/Divulgação
    Afrescos de Michelangelo na capela Sistina, no Vaticano

    RIO DE JANEIRO - "O Brasil é um deserto de homens e ideias". A antiga frase de Oswaldo Aranha dos anos 1930 pode ser aplicada à atual crise que o país atravessa. Cassando Temer, promovendo uma nova eleição ou um plebiscito, convocando o presidente da Câmara dos Deputados, não teremos uma solução para nossos problemas. Uns pelos outros, nenhum de nossos líderes, nenhum dos nossos partidos saberão resolver a embrulhada em que nós nos metemos.

    Vou citar um exemplo histórico. Julio 2º contratou Michelangelo para pintar a Capela Sistina. Mais ou menos por acaso, o grande papa da Renascença descobriu uma stanze vazia e abandonada no palácio apostólico. Foi procurar Michelangelo, que estava em cima de um andaime pintando a Capela Sistina, uma das obras primas da humanidade.

    O papa pediu que ele acabasse logo, porque encontrara uma sala vazia sem nenhuma decoração. Michelangelo estava exausto pelo trabalho que realizava e com raiva de Julio 2º, que se esquecia de pagar o que prometera.

    Embaixo dos andaimes havia um grupo de rapazes que ajudavam o pintor a preparar as tintas. Michelangelo apontou os seus auxiliares e pediu ao papa que escolhesse um deles para pintar a esquálida sala vazia.

    O papa obedeceu. Perguntou ao grupo de ajudantes do grande pintor se um deles topava pintar a sala que descobrira. Um jovem se apresentou, declarando que podia fazer o que o papa queria. Julio 2º não o conhecia, perguntou-lhe o nome. O rapaz respondeu: Raffaello Sanzio.

    O papa aceitou sem conhecer o pretendente. Hoje, quem visita a Capela Sistina,logo em seguida quer admirar a também famosa Stanze di Raffaello, um dos maiores nomes da arte ocidental. A oferta de gênios era imensa naqueles tempos. Infelizmente, não temos nenhum Raffaello dando sopa.

    carlos heitor cony

    Escreveu até dezembro de 2017
    carlos heitor cony

    É membro da ABL. Começou sua carreira no jornalismo em 1952 no 'Jornal do Brasil'. É autor de 17 romances e diversas adaptações de clássicos.

    Edição impressa

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024