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    Carlos Heitor Cony

    Brazil über alles

    30/07/2017 02h00

    Avener Prado - 17.nov.2014/Folhapress
    Superintendência da PF em Curitiba, onde começou a Lava Jato
    Superintendência da PF em Curitiba, onde começou a Lava Jato

    Já chamaram o dinheiro de "excremento do demônio". O filho de um imperador romano reclamou do pai o imposto criado para o uso dos mictórios e latrinas. O pai respondeu: "pecunia non olet", ou seja, o dinheiro não cheira. Agora em tempos de Lava Jato, surgiu a expressão "dinheiro sujo". No fundo, todos têm razão.

    Não é exatamente uma definição nova. Na década de 1980, me pediram um roteiro para um filme sobre um inglês que assaltou um trem e fugiu para o Brasil. A Fundação Konrad Adenauer pediu a extradição do criminoso, que se casou com uma brasileira e teve um filho com ela. O pedido foi negado e o ladrão prosperou como guia turístico das verdes matas e das fontes murmurantes.

    Fiz o roteiro, estive na Alemanha diversas vezes e afinal me pagaram em marcos. Quando fui descontar o cheque, o funcionário que me atendeu examinou bem a nota e nada me pagou, dizendo que aquele era "Das ist schmutziges Geld". Ou seja, dinheiro sujo.

    Como se pode ver, o dinheiro é desprezado em todo o mundo, mas todo mundo luta ou rouba pela "coisa suja", que fede e faz parte da fisiologia do demônio. No Brasil, em forma de propina ou outros macetes, o dinheiro serve para tudo, obras, estradas, cargos, túneis e compra de consciências. Só o diabo conhece o preço em reais ou dólares que movimenta a estrutura e o funcionamento das propinas. Tudo em forma de dinheiro sujo.

    "Brazil über alles." Se o interessado somar todas as propinas e roubos do dinheiro nacional, obterá uma fortuna maior do que o produto interno bruto.

    Pode-se contestar as quantias que a mídia e os peritos da Justiça divulgam quase diariamente. Mas aí surgem o habeas corpus, as prisões domiciliares e as tornozeleiras eletrônicas. Realmente, o Brasil está acima de tudo.

    carlos heitor cony

    Escreveu até dezembro de 2017
    carlos heitor cony

    É membro da ABL. Começou sua carreira no jornalismo em 1952 no 'Jornal do Brasil'. É autor de 17 romances e diversas adaptações de clássicos.

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