• Colunistas

    Monday, 06-May-2024 17:12:17 -03
    Carlos Heitor Cony

    Chacrinha não morreu

    17/09/2017 02h00

    Acervo UH/Folhapress
    O apresentador José Abelardo Barbosa de Medeiros, o Chacrinha, ao lado de suas assistentes de palco
    O apresentador José Abelardo Barbosa de Medeiros, o Chacrinha, ao lado de suas assistentes de palco

    RIO DE JANEIRO - Paralisado por um acidente doméstico, pela primeira vez acompanhei os ensaios dos artistas que hoje se apresentarão no Rock in Rio. Não precisou que alguém jogasse bacalhau para a plateia de jovens, que estão criando uma nova forma de expressar amor e sentimentos correlatos. Algumas letras são maravilhosas, embora monótonas pelo tema e pelo ritmo repetido à exaustão. A alternativa que me ficou foi acompanhar com má vontade as misérias da Lava Jato. Espero que esta nova geração faça um Brasil melhor.

    Diretor de uma revista semanal, acompanhei o drama de Cássia Eller. Comprometida com o rock, intérprete de alguns sucessos, ela parecia drogada, procurou uma clínica em Laranjeiras. Seu estado era deplorável. Internada às pressas, teve um infarto e morreu. Um jornalista da época escreveu: "não se sabe ainda se o rock leva às drogas ou se as drogas levam ao rock".

    Nem uma coisa nem outra. A geração mais nova dificilmente tem acesso a outros tipos de música que conseguem unir corações, mentes e bundas –algumas boas que nem o Chacrinha, que, com suas chacretes, conseguia empolgar velhos e moços. Daí o apelo ao bacalhau: "Vocês querem bacalhau?" Todos queriam.

    O talento e a obstinação de Roberto Medina aproveitaram do Chacrinha uma coleção de bundas e coxas que fizeram história sem necessidade do bacalhau. Pessoalmente, não gosto do bacalhau. Prefiro bundas e coxas, que, por mais que sejam monótonas e repetitivas, com o rock têm a vantagem de parecerem novas e maravilhosas. Desejo sucesso ao Rock in Rio 2017 e mando meu afetuoso abraço ao Roberto Medina. O pai dele criou um dos programas mais memoráveis da TV brasileira: "Noites de Gala".

    Depois do "Balança mas não Cai", foi a trilha sonora de toda uma geração.

    carlos heitor cony

    Escreveu até dezembro de 2017
    carlos heitor cony

    É membro da ABL. Começou sua carreira no jornalismo em 1952 no 'Jornal do Brasil'. É autor de 17 romances e diversas adaptações de clássicos.

    Edição impressa

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024