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    Carlos Heitor Cony

    Aviso aos navegantes

    29/10/2017 02h00

    Bullit Marquez/Associated Press
    Tripulante de barco filipino sinaliza para navio da Marinha da China
    Tripulante de barco filipino sinaliza para navio da Marinha da China

    Depois que Pompeu pronunciou o "navegar é preciso", foram muitos os que, literalmente, embarcaram na pequena frase que se tornou um lema poético e existencial. E até mesmo operacional, tal como está inscrito no escudo da Liga Hanseática, ali no extremo norte da Europa. Em Lübeck, cidade natal de Thomas Mann, o portão medieval que dá acesso à rua principal tem esse escudo gravado na pedra já coberta de limo. Nele se pode ler o apelo com o qual Pompeu incentivou seus marinheiros a enfrentar a procela que separava o trigo da África da fome de Roma.

    Pegando carona na mesma frase, Fernando Pessoa e até o finado Ulysses Guimarães costumam ser citados como pais da ideia de que navegar é preciso, viver não é preciso. Há tempos, ouvi na TV um professor universitário atribuir a frase a Caetano Veloso.

    O professor dava uma aula sobre o descobrimento do Brasil e fez assombrosa síntese. Daí que fiquei em dúvida se Cabral ou o grande Gama decidiram navegar depois de ouvir Caetano. De qualquer forma, em nome deste navegar é preciso, cheguei à conclusão de que o melhor é tirar meu time de campo, ou melhor, meu barco do mar. Viajo em seco –e viajo bem.

    Acho que é preciso viver, navegar fica por conta de circunstâncias. O povão que mora em Niterói costuma navegar todos os dias, e todos ali concordam que viver é preciso. Navegam por necessidade de tempo e economia de pecúnia.

    Os cadernos de turismo, que praticamente todos os jornais publicam, estão cheios de anúncios sobre roteiros marítimos que continuam em moda. Os principais portos do mundo estão abarrotados de navios que durante a navegação prometem até shows de Roberto Carlos.

    Volta e meia, um deles naufraga, matando, sobretudo, os imigrantes que fogem de países governados por ditadores inclementes.

    carlos heitor cony

    Escreveu até dezembro de 2017
    carlos heitor cony

    É membro da ABL. Começou sua carreira no jornalismo em 1952 no 'Jornal do Brasil'. É autor de 17 romances e diversas adaptações de clássicos.

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