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    Carlos Heitor Cony

    Procura-se um homem

    05/11/2017 02h00

    Pedro Ladeira - 21.nov.2013/Folhapress
    Pôr do sol visto nas proximidades da Papuda

    Há 2.000 anos, o filósofo grego Diógenes saiu de casa com uma lanterna na mão. O sol brilhava naquela manhã, todos perguntavam a ele a razão de levar uma lanterna e por que fazia isso. Diógenes respondia: "Procuro um homem". Segundo ele, não havia nenhum homem nas ruas e nos lugares públicos. Diz a lenda que não encontrou nenhum, todos eram incompetentes ou corruptos.

    Hoje, qualquer Diógenes pode fazer o mesmo e não encontrará nenhum homem, porque todos parecem incompetentes e desonestos. Pode ser um exagero, mas terá razão. Todos aqueles considerados como homens, não seriam encontrados. Os possíveis candidatos não eram dignos da classificação "homem".

    Quem hoje fizesse o mesmo, também não encontraria um homem digno de responder ou comentar a pergunta do filósofo. Evidente que existem homens no cenário nacional. Mas todos recusariam a classificação "homem".
    Tenho um amigo que já ocupou cargos importantes na administração pública, não aceitaria a condição de homem. Ele temeria as delações premiadas ou não e evitaria o vexame de ser preso ou exilado. Receberia cheques, planilhas e sugestões que antes de chegarem à sua mesa de trabalho teriam passado por subordinados, desde os porteiros até os assessores mais graduados.

    Não teria tempo ou condições de examinar as propostas que sugeriam propinas e medidas criminosas. Este amigo não aceitou o convite por não saber o que iria fazer. Era o homem que duvidaria de todos os outros homens capazes de propor ou realizar as sugestões recebidas, com receio de serem considerados como ladrões e serem presos pelos tribunais ou pela Operação Lava Jato.

    Nas investigações da polícia ou dos tribunais superiores seria considerado corrupto e ladrão e acabaria no presídio da Papuda.

    carlos heitor cony

    Escreveu até dezembro de 2017
    carlos heitor cony

    É membro da ABL. Começou sua carreira no jornalismo em 1952 no 'Jornal do Brasil'. É autor de 17 romances e diversas adaptações de clássicos.

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