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    Carlos Heitor Cony

    Uma burrice a mais

    26/11/2017 02h00

    Divulgação
    Pilha de livros
    Pilha de livros

    RIO DE JANEIRO - O Brasil atravessa um dos seus piores momentos no campo financeiro e moral. Não entendo de economia, tampouco de moral. Segundo comentava Nelson Rodrigues, a esbórnia das propinas envergonha atá mesmo as cotias do Campo de Santana.

    Como se não bastassem os escândalos de quase toda a cúpula política, um detalhe, que pode parecer secundário, demonstra o tipo de homens que temos no poder.

    O governo, pelos seus líderes do setor, está ameaçando expurgar os livros infantojuvenis considerados nocivos até mesmo pelo aparente racismo.

    Somente a falta de cultura e de memória dispensa os clássicos da literatura para crianças e jovens. O exemplo mais notório seria o de Monteiro Lobato, que formou e continua formando uma geração de brasileiros. Na literatura universal, temos Tom Sawyer e Huckleberry Finn, de Mark Twain. São dois moleques capazes de romper até mesmo os bons costumes não só na América como no resto do mundo.

    Na Inglaterra, temos a maravilha de "Tom Jones", de Fielding, que lembra não apenas Tom Sawyer como alguns personagens de Monteiro Lobato. O regime militar de 64 fiscalizava toda a cultura nacional, principalmente a literatura infanto-juvenil.

    As Viagens de Tom Sawyer
    Mark Twain
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    Com a crise que atinge a economia e cultura globais, qualquer censura à produção cultural, seja ela qual for, além de um retrocesso é uma burrice. Alegar o racismo e outras mazelas humanas não é motivo para impedir que os jovens de hoje tomem conhecimento da mania do jovem d. Pedro 1º, futuro proclamador de nossa independência, que gostava de cavalgar em cima dos filhos dos escravos.

    Fiscalizar e cercear qualquer tipo de literatura, principalmente a infantojuvenil, é uma violência e um crime contra a humanidade.

    carlos heitor cony

    Escreveu até dezembro de 2017
    carlos heitor cony

    É membro da ABL. Começou sua carreira no jornalismo em 1952 no 'Jornal do Brasil'. É autor de 17 romances e diversas adaptações de clássicos.

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