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    Carlos Heitor Cony

    Deus e Paulo Francis

    03/12/2017 02h00

    Luiz Carlos Murauskas/Folhapress
    Paulo Francis na sede da Folha, em 1982
    Paulo Francis na sede da Folha, em 1982

    Diante dos problemas que afligem o Brasil e aporrinham o seu povo, recebo um e-mail cobrando-me uma solução para um dos grandes (senão o maior) problema: a reforma da Previdência.

    Meu primeiro e mais salutar impulso é repetir um personagem de Dickens. Chegando à cidade acompanhado pela diretoria do clube Pickwick, cujo presidente perpétuo era ele mesmo, havia um comício político e todo mundo berrava: sim! sim! Mal saltou da carruagem, Mr. Pickwick começou também a gritar: sim! sim! O entusiasmo do presidente alarmou a diretoria do clube e uma delegação foi interrogá-lo.

    –Mestre, o senhor sabia o que estava gritando?

    –Não! Mas toda vez que vocês encontrarem uma multidão gritando sim ou não, gritem com a multidão.

    A lição pareceu sábia, mas assim mesmo o tesoureiro do clube, homem prático e previdente, argumentou: –Mestre, e se houver duas multidões gritando, uma sim, outra não?

    –Então grite com aquela que estiver gritando mais alto.

    Gritando mais alto, o brasileiro comum cobra do governo não apenas moralidade, mas a realização de grandes obras. Por exemplo: Niterói era uma viagem ao fim do mundo, ao último pedaço da matéria. Tomava-se a barca na praça 15 e descíamos no outro lado do universo, além do buraco negro formado pelo Big Ben. Niterói era apenas longe e improvável como o reino de Cristo e de Paulo Francis.

    Era uma viagem aos limites do universo. Hoje, Niterói, como o resto do Brasil, é uma cidade gostosa, apesar de sofrer inflação, violência e perplexidade.

    Deixando Niterói e Paulo Francis de lado, sobra para nós o grande enigma: o governo a ser eleito no ano que vem será pior ou melhor do que o atual. Num ou noutro caso, tudo continuará igual, se o Brasil continuar existindo.

    carlos heitor cony

    Escreveu até dezembro de 2017
    carlos heitor cony

    É membro da ABL. Começou sua carreira no jornalismo em 1952 no 'Jornal do Brasil'. É autor de 17 romances e diversas adaptações de clássicos.

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