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    Caro Dinheiro

    O futebol e o mundo dos negócios

    23/07/2014 03h00

    A Copa do Mundo no Brasil acabou há poucos dias e algumas lições podem ser tiradas desse evento e correlacionadas com o mundo dos negócios do dia a dia das empresas.

    A primeira lição é com relação ao time campeão, que foi a Alemanha, que não possuía "estrelas" individuais entre seus jogadores, mas formava uma equipe cujo objetivo coletivo foi atingido: o de vitória (e ainda teve um jogador, Mirolasv Kloser, que marcou mais dois gols no Mundial e tornou-se o maior artilheiro de todas as Copas, com 16 gols).

    Na goleada que o time aplicou sobre o Brasil, no inesquecível 8 de julho, percebia-se um trabalho coletivo, em que o jogador passava a bola para o colega que estava em melhor posição e tinha a maior possibilidade de fazer o gol (fato que pode ser confirmado, sobretudo, no terceiro e no quarto gols). O mundo empresarial de hoje almeja muito mais profissionais que sabem trabalhar em equipe do que talentos individuais. Uma equipe é muito mais do que o simples somatório de cada integrante. A sinergia entre as pessoas que compõem um time é fundamental. E isso a Alemanha demonstrou ao longo de toda a Copa.

    Outra lição remonta ainda ao jogo entre Brasil e Chile pelas oitavas de final (mas também foi observado logo no início do jogo contra Alemanha), que foi a dificuldade que os jogadores brasileiros demonstraram em lidar com a adversidade. Ao sofrer o gol de empate do Chile (bem como os 4 gols no período de 6 minutos contra a Alemanha), o descontrole emocional tomou conta da seleção brasileira.

    No jogo contra o Chile, o capitão Thiago Silva pediu para ser a última escolha na lista dos batedores de pênaltis. Isso não é papel de um líder. Fugir da responsabilidade na hora em que a equipe mais precisa é um sinal de covardia.

    No mundo empresarial, o líder deve inspirar seus liderados e ensiná-los a lidar com situações difíceis em busca de soluções para reerguer a empresa, pois do contrário ela quebra, como aconteceu com o time do Brasil na semifinal.

    E tem mais, uma atitude individual e impensada deste capitão no jogo contra a Colômbia (quartas de final): ao fazer uma falta desnecessária sobre o goleiro adversário, que apenas ia repor a bola em campo, Thiago Silva recebeu o cartão amarelo que o tirou do jogo contra a Alemanha, desfalcando sua equipe. É muito importante para um líder perceber que atitudes individuais inconsequentes podem por a perder todo o projeto de uma equipe.

    Outra questão foi a insistência em manter o que visivelmente não dava certo. O agora ex-técnico da seleção e sua comissão técnica sabiam que alguns jogadores não estavam em sua melhor fase e mostravam-se improdutivos durante vários jogos, como o Fred que foi mantido como titular.

    No mundo empresarial, o que não está dando certo precisa ser corrigido. O interesse coletivo deve estar acima das vaidades e arrogâncias individuais. As instituições têm que estar acima das pessoas, e não o contrário. Por exemplo, uma empresa (ou uma família) que não pratica a inteligência financeira e continuar a gastar além das suas possibilidades e sem nenhum planejamento, certamente irá à falência.

    Mais algumas lições que podem ser destacadas são: a importância do treinamento, do foco e da estratégia. Enquanto várias seleções realizaram trabalhos de longo prazo (como foi o caso da própria Alemanha, que desenvolveu um trabalho de base desde 2006), tiveram foco no objetivo principal, que eram as partidas de futebol, e mantiveram suas estratégias de treinamento longe das lentes da imprensa, a seleção brasileira foi formada há pouco mais de um ano (durante a Copa das Confederações), os treinos eram abertos a todos (mostravam abertamente as suas estratégias) e, por muitas vezes, ficou visível que o interesse comercial dos patrocinadores sobrepujava o foco das partidas de futebol. No ambiente empresarial, é muito importante o treinamento e a qualificação dos funcionários, bem como o estabelecimento de regras para manter o foco e sigilo das estratégias empresariais, para surpreender os clientes e conquistar mercados.

    Enfim, as derrotas para Alemanha e Holanda mostraram os reais problemas da seleção brasileira e a necessidade de rever os rumos do futebol nacional, uma vez que não foram apenas dois jogos de futebol que o Brasil perdeu. A identificação do povo com a sua Seleção vai muito além do futebol. Como dizia Nelson Rodrigues, a seleção é a "Pátria de chuteiras". Daí toda a tristeza e comoção observada no fatídico 8 de julho. Pena que não se observa uma relação recíproca, uma vez que a seleção tem pouca identidade com os brasileiros, pois muitos jogadores atuam no exterior desde o início de suas carreiras.

    Artigo em parceria com o professor e palestrante Fernando Antônio Agra Santos (Universidade Salgado de Oliveira), doutor em economia aplicada (UFV) e economista da UFJF.

    caro dinheiro

    Escreveu até novembro de 2015

    por samy dana

    Ph.D em Business, doutorado em administração, mestrado e bacharelado em economia. É professor na Escola de Administração de Empresas de São Paulo da FGV.

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