Investimentos em modalidades de juros tendem a ter boa rentabilidade durante longo período de tempo, sendo possível viver apenas da renda mensal oferecida sem que haja prejuízos para o patrimônio total.
No entanto, é importante ter cautela, pois a alta inflação brasileira pode corroer o investimento com o passar dos anos. Em dez anos, por exemplo, os R$ 650 mil que você espera obter com a venda do imóvel podem ser bastante abreviados caso a aplicação não compreenda retornos acima do crescimento dos preços.
Para solucionar esse problema, é necessário buscar investimentos com retorno superior à inflação, mas ao mesmo tempo com baixo risco para que eventuais perdas não destruam as reservas. Nesses termos, três modalidades se destacam: Tesouro Direto, CDB de grandes bancos e letras de crédito, as quais oferecem retorno mensal líquido de 0,3% ao mês acima da alta de preços, ou seja, R$ 1.950 com R$ 650 mil aplicados.
Para chegar aos R$ 3.000 gastos mensalmente, como você menciona, pode-se considerar retiradas periódicas do total investido. Para diferentes prazos, é possível variar o montante resgatado, sendo esse maior para períodos mais curtos.
Usando como parâmetro taxa de retorno médio mensal de 0,3%, as retiradas variam para cada horizonte de tempo. Se todo o dinheiro for usado em apenas um ano, é possível retirar R$ 55.229 por mês. Para o período de cinco anos, esse valor cai para R$ 11.854.
Esses cenários, contudo, não se mostram opções interessantes, pois os rendimentos deverão ocorrer por um período mais longo. Para dez anos de gastos, as retiradas mensais ficam em R$ 6.458, enquanto para 15 anos o valor é de R$ 4.679 e, para 20 anos, R$ 3.803, sendo tal rentabilidade superior às despesas.
Entretanto, é importante atentar para o fato de que os R$ 650 mil podem não chegar a ser o capital total investido devido a eventuais custos de corretagem e impostos envolvidos na venda do imóvel. Ainda com os descontos, contudo, é possível que as retiradas de R$ 3.000 mensais permitam ao investimento durar aproximadamente 20 anos.
Nessas três modalidades, o risco é bastante reduzido. O Tesouro Direto só não será pago caso o governo brasileiro dê calote, enquanto as letras de crédito e os CDBs não serão quitados somente se os bancos dos quais forem contratados vierem a falir, situações ainda distantes da realidade brasileira.
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Ph.D em Business, doutorado em administração, mestrado e bacharelado em economia. É professor na Escola de Administração de Empresas de São Paulo da FGV.