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    Caro Dinheiro

    Finais felizes enganam a nossa memória

    02/10/2014 10h42

    Quem não gosta de um final feliz? A premissa de que não importa o que aconteça, pois no fim tudo acaba bem, é poderosa e já levou milhões de pessoas ao cinema.

    No entanto, pesquisas recentes da economia comportamental mostram que a forma de avaliar uma experiência (seja um filme, um relacionamento ou um exame médico) pode afetar diretamente a nossa memória sobre ela - e assim determinar diretamente a nossa propensão a repeti-la no futuro. Se ela terminou de uma forma positiva (ou menos pior do que o início), são grandes as chances de querermos tentar mais uma vez.

    Em outras palavras: nossa memória nos engana. É como o casal que passou meses sem dormir após o nascimento do primeiro filho, mas que algum tempo depois já está disposto a engravidar novamente, pois a percepção é de que "não foi tão difícil assim". Agora, tente falar isso para uma mãe que acorda de duas em duas horas para amamentar de madrugada por semanas a fio!

    De acordo com estudos recentes, nossa memória de uma experiência é criada da seguinte forma: em um primeiro momento, sumarizamos o ocorrido, para depois fazer uma avaliação. No entanto, o que acontece é que o "resumo" da experiência não inclui todos os seus componentes igualitariamente, mas foca em alguns pontos específicos: o momento do seu auge e o fim.

    Com isso, alguns poucos momentos têm mais peso na avaliação geral do que outros. Imagine um jantar em um restaurante com um serviço especialmente lento. Logo no início, o garçom esquece de trazer o couvert, as bebidas demoram a chegar e as entradas são servidas frias. Se o prato principal for de fato bom e ao fim, o garçom trouxer uma sobremesa de cortesia, é provável que a memória geral do jantar seja positiva e você tenha, inclusive, vontade de comer lá novamente.

    Isto vale especialmente se a experiência teve um começo ruim. É como em um exame médico, no qual a parte mais dolorosa é realizada logo nos primeiros momentos e, aos poucos, o desconforto vai diminuindo. Essa experiência tem mais chances de ser repetida do que um outro exame tão doloroso quanto, mas com o incômodo deixado para o fim - mesmo se ela for mais curta!

    Post em parceria com jornalista Carolina Ruhman Sandler, fundadora do site Finanças Femininas.

    caro dinheiro

    Escreveu até novembro de 2015

    por samy dana

    Ph.D em Business, doutorado em administração, mestrado e bacharelado em economia. É professor na Escola de Administração de Empresas de São Paulo da FGV.

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