• Colunistas

    Sunday, 28-Apr-2024 03:37:39 -03
    Caro Dinheiro

    Os limites da nossa atenção

    21/02/2015 02h00

    O nosso cotidiano é baseado na lei do menor esforço. Espantou-se com a afirmação e discorda? Pois hoje você verá que a constatação tem fundamento.

    Entender a lei do menor esforço na elaboração do raciocínio ou no foco da atenção pode evitar que passemos por situações desagradáveis, como fechar um negócio desvantajoso ou assinar um contrato abusivo para a aquisição de um produto.

    Antes de detalhar o que embasa a confirmação, vamos lembrar que nossa mente tem o funcionamento dividido entre dois tipos de sistemas, sendo o primeiro chamado de automático e o segundo denominado de oneroso.

    O primeiro é responsável pelas nossas reações imediatas, pelas primeiras impressões que temos de tudo à nossa volta. Como a capacidade de olhar para um carro passando e saber qual é a cor dele, admitir que é melhor sair de casa com um guarda-chuva em um dia excessivamente nublado ou desviar o caminho ao notar uma poça d'água à sua frente.

    O segundo, por sua vez, é influenciado pelo primeiro na hora de formar julgamentos, mas é o responsável por realizar pensamentos mais elaborados, como o embasamento de um posicionamento político, o raciocínio usado para resolver uma fórmula matemática ou para traçar mentalmente a rota para um determinado deslocamento que você deseje fazer.

    Dadas as diferenças, um olhar mais detalhado sobre o comportamento do sistema oneroso irá nos mostrar que, na maior parte do tempo, ele opera em "modo econômico". Em outras palavras, é como se poupasse energia para tarefas que exigem maior esforço.

    Existe um exemplo prático que pode mostrar como isso realmente acontece: o comportamento de nossas pupilas. Elas se dilatam ou se contraem de acordo com a atividade cerebral e isso pode ser facilmente detectado em uma experiência simples.

    Peça a alguém para fazer uma operação matemática complicada de cabeça (por exemplo, 22 x 53), sem auxílio de lápis e papel. Diga a ela que não é preciso ter certeza do resultado, mas para que se esforce para chegar a uma resposta para o problema. Enquanto ela realiza a operação, observe atentamente os olhos dessa pessoa.

    Você perceberá que as pupilas irão se dilatar à medida que ela busca uma resposta para o problema, mas que, no momento em que a capacidade mental chegar ao limite, a pupila vai interromper a dilatação e imediatamente se contrair. Neste momento, a pessoa desistiu do cálculo ou encontrou a resposta. A movimentação da pupila de acordo com as pressões às quais submetemos nosso cérebro funciona como uma espécie de medidor.

    Os picos de alteração na atividade cerebral confirmam o que foi dito logo no início, sobre funcionarmos diariamente pela lei do menor esforço. Como diria o psicólogo Daniel Kahneman, especializado em psicologia cognitiva, é como se o nosso sistema oneroso vivesse constantemente no ritmo de uma caminhada, por vezes intercalada por uma corrida leve e outras vezes por uma disparada. Os momentos em que forçamos nosso cérebro são justamente essas disparadas.

    A questão mais importante sobre a percepção do funcionamento de nosso cérebro em momentos de sobrecarga é que a nossa atenção funciona de modo seletivo. Por exemplo, seria arriscado tentar fazer a mesma operação matemática do teste da pupila ao mesmo tempo em que você dirige e precisa se concentrar em uma rota complicada.

    Seu cérebro precisa priorizar uma atividade, o que significa que detalhes importantes da outra atividade proposta ficarão em segundo plano. Quando nos ocupamos em um disparo mental, ficamos cegos para todo o resto.

    Lembra que logo no início falamos sobre as situações que podemos evitar se entendermos a fundo o funcionamento do cérebro pela lei do menor esforço? Pois bem, você estará suscetível a perder detalhes importantes em uma reunião de negócios em que muitas pessoas falam ao mesmo tempo, tendo em vista que os focos diversos irão confundir sua atenção e seu cérebro chegará a um limite de absorção de informações.

    Da mesma forma, você pode ser ludibriado pelo seu gerente de banco se ele estiver interessado em lhe oferecer um produto e soltar uma enxurrada de informações sobre os supostos benefícios que pretende lhe vender. As informações sobre taxas elevadas e multas rescisórias provavelmente estarão em alguma cláusula bem escondida, longe do foco de sua atenção.

    Em algum momento da vida você já deve ter se impressionado com algum truque de mágica em que uma carta de baralho desaparece ou muda de lugar sem que você perceba. O ilusionista não tem poderes sobrenaturais, ele simplesmente domina as técnicas necessárias para driblar sua atenção. O mesmo acontece em situações práticas do dia a dia, só que nestes casos essas "mágicas" envolvem o seu dinheiro.

    Post feito em parceria com Karina Alves, jornalista e editora do site Finanças Femininas (http://financasfemininas.com.br/).

    caro dinheiro

    Escreveu até novembro de 2015

    por samy dana

    Ph.D em Business, doutorado em administração, mestrado e bacharelado em economia. É professor na Escola de Administração de Empresas de São Paulo da FGV.

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024