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    Caro Dinheiro

    Digit: o aplicativo que te faz poupar sem esforço, mas não paga rendimento

    26/02/2015 02h00

    Em um mundo onde há um aplicativo para tudo, nada mais esperado do que você ter também um aplicativo que ajuda a poupar dinheiro. Ou melhor, no caso do Digit: que obriga você a guardar dinheiro.

    O Digit é um aplicativo que nasceu recentemente no Vale do Silício americano. Ele se conecta à conta bancária do usuário e, a partir de um algoritmo, monitora alguns parâmetros como o valor que o usuário possui na conta, quanto esse usuário tem a receber (seu salário ou rendimento fixo), as contas que vão vencer naquele período e a média que o usuário tem gasto por mês. Dependendo do banco, o Digit consegue acessar e analisar o histórico financeiro dos últimos três anos desse usuário.

    Após estar conectado à conta do usuário, o aplicativo faz os cálculos (em média a cada três dias), transferindo para uma outra conta "de custódia" (mantida em bancos que são garantidos pelo FDIC, com valor de até US$ 250 mil) o dinheiro que esse usuário "não vai precisar usar". E claro: é possível sacar as economias, assim como ajustar o valor mensal das transferências. Por exemplo, se o usuário for demitido e seu salário parar, o aplicativo vai perceber e reajustar o valor da transferência automaticamente.

    Parece perfeito, não? Uma tecnologia que conhece o seu modo de gastar e pode decidir por você quanto você consegue juntar de dinheiro por mês. No entanto, existe uma pegadinha importante aqui: como o Digit ainda não possui fonte de receitas próprias, ele se apropria dos juros que esses recursos poderiam render ao usuário.

    Ou seja: o aplicativo vale a pena apenas para quem precisa poupar para algo no curto prazo, com um objetivo claro, como uma viagem ou ação de lazer, uma vez que o usuário não se beneficia de nenhum rendimento financeiro do dinheiro poupado.

    E o sucesso desse aplicativo no Brasil?

    No Brasil, é difícil prever se o Digit iria "pegar", tanto pelo fato de nossa cultura valorizar a importância da rentabilidade do dinheiro investido (nosso histórico recente de inflação galopante), como pelo fato de os bancos brasileiros, em sua maioria, já oferecerem aplicações automáticas do dinheiro que fica parado na conta - e claro, o juro do dinheiro investido (mesmo que pequeno) ficar com o cliente.

    No nosso caso, o Digit sai perdendo para a própria conta corrente dos bancos brasileiros - mas isso se a pessoa consegue guardar um pouco todo mês.

    Para Bloch, criador do Digit, os banco comerciais desestimulam o cliente a poupar porque a experiência do cliente é "cheia de fricção e inércia", ou seja, de difícil acesso e compreensão. Vemos a todo momento reclamações de clientes por não entenderem como funciona tal aplicação ou investimento e que, sistematicamente, não encontram o devido apoio de seus bancos e gerentes de contas.

    A empresa pensa em lançar o Digit em outros países, mas não tem prazo ou estratégia definida para esta ação.

    Para quem ficou interessado, uma alternativa simples (e mais rentável) é estabelecer um valor como meta para poupar todo mês e colocar um lembrete no seu calendário para fazer uma aplicação mensal desta verba assim que o salário cair na conta.

    Numa fase inicial nos EUA, que durou cinco meses, os usuários do Digit economizaram mensalmente em média 5,5% de sua renda - pode ser um bom passo inicial para quem quer aprender poupar, mas sempre perde na onda da procrastinação de começar no mês seguinte.

    Post em parceria com Carolina Ruhman Sandler, jornalista e fundadora do site Finanças Femininas

    caro dinheiro

    Escreveu até novembro de 2015

    por samy dana

    Ph.D em Business, doutorado em administração, mestrado e bacharelado em economia. É professor na Escola de Administração de Empresas de São Paulo da FGV.

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