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    Caro Dinheiro

    O que você come antes de tomar uma grande decisão?

    07/03/2015 02h00

    A dificuldade que temos em raciocinar direito diante de uma situação difícil quando estamos com fome ou mesmo o esforço necessário para manter a concentração durante uma longa tarefa nas mesmas condições não é uma mera questão de desconforto.

    Apesar de sermos capazes de produzir mesmo em condições adversas, a falta de alimento comprovadamente compromete os nossos resultados em qualquer circunstância que dependa de atenção.

    Quer tirar a prova? Experimente reunir um grupo de pessoas e faça o seguinte teste: peça a todos que se concentrem em uma tarefa que exija autocontrole e atenção. Terminado o exercício, distribua limonadas a todos, sendo metade delas adoçadas com adoçante e a outra metade com açúcar.

    Em seguida, proponha um novo exercício em que seja preciso usar o raciocínio para rejeitar uma resposta óbvia e encontrar a solução correta. Você notará que as pessoas que beberam a limonada com adoçante tenderão a dar a resposta intuitiva errada, enquanto as que tomaram o suco com açúcar terão resultados melhores.

    Essa experiência foi feita pelo psicólogo Roy Baumeister, que conseguiu comprovar que o sistema nervoso consome mais glicose do que outras partes do corpo. Dessa forma, as pessoas que consumiram limonada com açúcar entre um exercício e o outro tiveram seus níveis de glicose restaurados e raciocinaram melhor. Resumindo: o suco foi uma espécie de recarga de bateria na atividade mental.

    Essa experiência pode servir como um importante lembrete para qualquer pessoa que esteja se preparando para uma prova importante, seja um concurso público ou um processo seletivo rigoroso em uma grande empresa. É nessa hora que percebemos a importância de um levar um pequeno lanche para enfrentar longas horas de prova, ainda que seja uma barrinha de chocolate.

    Outro modo interessante de perceber a relação entre concentração e fome é através de uma outra experiência, essa com efeitos práticos no cotidiano. Para demonstrar como o julgamento humano fica prejudicado quando a mente é forçada demais sem reposição de energia, foi feita uma experiência com oito juízes de condicional em Israel, cujos resultados foram publicados na PNAS (Proceedings of the National Academy os Sciences).

    Os juízes passavam o dia inteiro revisando pedidos de condicional, em ordem aleatória. Durante o experimento, era dado um tempo médio de seis minutos para cada pedido. Além disso, eles também tinham três pausas para refeições: café da manhã, almoço e lanche da tarde.

    Após a análise de resultados de acordo com cada período do dia, os pesquisadores perceberam que 65% dos pedidos de condicional são concedidos logo após uma refeição. Durante as aproximadamente duas horas que separam uma refeição e outra, a taxa de aprovação vai caindo gradativamente. Um novo pico de aprovação volta a surgir logo após a ingestão de alimento.

    A fome, assim como o cansaço, são determinantes para a nossa capacidade de julgamento. Os alertas que recebemos de médicos nas consultas de rotina sobre a nossa alimentação, bem como aquele eterno conselho dos pais para nos alimentarmos bem, se tornam valiosos diante de tais constatações.

    Imagina deixar escapar um importante detalhe de um contrato da empresa porque resolveu revisá-lo tarde da noite? Ou mesmo um advogado dar um conselho equivocado a um cliente por ter insistido em atender uma ligação fora de horário de expediente, depois de um dia exaustivo e sem tempo para almoço.

    O equilíbrio da nossa alimentação e do nosso descanso é que vai determinar o quão razoáveis serão nossas decisões e julgamentos. Ao refletir sobre isso, avalie se todas as horas extras que tem feito no trabalho estão sendo realmente produtivas. Dormir pouco, passar longos intervalos sem comer, viver sempre com pressa para trabalhar mais e mais, tudo isso, na verdade, tira não só a sua qualidade de vida, mas também empobrece as suas decisões.

    Post escrito em parceria com Karina Alves, editora do site Finanças Femininas

    caro dinheiro

    Escreveu até novembro de 2015

    por samy dana

    Ph.D em Business, doutorado em administração, mestrado e bacharelado em economia. É professor na Escola de Administração de Empresas de São Paulo da FGV.

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