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    Caro Dinheiro

    Quantos prejuízos a preguiça já lhe causou?

    14/03/2015 02h00

    Quanto tempo você leva para tomar uma decisão? Antes de responder à pergunta, você provavelmente pensará sobre a relatividade da resposta. Afinal, é mais fácil decidir entre pedir carne bovina ou de frango em um restaurante do que definir a compra dessa ou daquela ação na Bolsa de valores.

    Ainda assim, independentemente do nível de dificuldade da decisão a ser tomada, você acreditaria se lhe disséssemos que a forma como reage a decisões pequenas afeta o seu modo de agir como um todo?

    Pois bem, é justamente sobre isso que iremos falar hoje. Veja bem, como já dissemos em outras ocasiões, nossa mente é organizada entre "divisões de tarefas" de dois sistemas. Um deles é o sistema automático, responsável por nossas primeiras impressões a respeito de tudo que nos cerca. É o que define o pensamento intuitivo.

    O segundo, por sua vez, é chamado de oneroso e é responsável por controlar e monitorar as sugestões que nos são dadas pelo sistema automático. Por exemplo, se alguém me ofende, o sistema automático pode sugerir uma reação imediata de uma resposta mal criada. No entanto, o sistema oneroso age logo em seguida para controlar aquele impulso e evitar a devolução na mesma moeda.

    A grande questão é que algumas vezes o sistema automático gosta de pregar algumas peças no oneroso, que pode se mostrar bem preguiçoso se não tiver uma motivação forte para funcionar. Dois estudiosos sobre psicologia cognitiva, Shane Frederick e Daniel Kahneman, propuseram alguns testes simples para mostrar essa relutância do sistema oneroso em trabalhar, diante de uma "ilusão" do sistema automático. Propomos um deles abaixo.

    Tente encontrar uma solução rápida para o seguinte problema: um lápis e uma borracha custam R$ 1,10. A borracha custa um real a mais que o lápis. Qual o valor do lápis? Intuitivamente você deve ter pensado R$ 0,10, que é a resposta errada, mas que parece óbvia quando encaramos o problema sem pensar duas vezes.

    Se R$ 0,10 fosse a resposta, a borracha custaria R$ 1,10, logo, o custo total dos dois seria R$ 1,20. Para que o total seja R$ 1,10, o lápis precisa custar R$ 0,05. A ilusão reside justamente aí. O sistema oneroso não se sente impelido a pensar duas vezes diante de uma solução que aparenta ser óbvia.

    Essa tendência a ter certa "preguiça" de pensar em determinados contextos é o que nos leva a tomar decisões ruins no dia a dia, como acreditar em promoções enganosas no supermercado por não avaliar direito o tamanho das embalagens, cair em falsos descontos na compra de um equipamento parcelado por não calcular direito os juros embutidos em cada parcela ou mesmo entrar no vermelho por confiar mais na bela propaganda que o banco faz para que você parcele a fatura de cartão de crédito, do que no cálculo que você deveria fazer para saber quanto em juros vai pagar todos os meses por esse parcelamento.

    Assim como repele o raciocínio elaborado, a impulsividade também é inimiga do autocontrole. Um famoso teste feito com crianças pelo psicólogo Walter Mischel mostrou diferenças determinantes no comportamento delas ao longo de anos. Crianças de 4 anos eram colocadas sozinhas em uma sala com um doce diante delas. Aquelas que suportassem passar 15 minutos sem comê-lo ganhariam mais um e poderiam comer os dois. As que não suportassem o tempo sem ceder à tentação do doce não teriam direito a outro.

    Veja vídeo

    Quinze anos após o experimento, foi observado que as crianças que tiveram autocontrole para ganhar a recompensa de um segundo doce eram mais racionais, ponderadas e tinham melhor desempenho na escola. As que comeram o doce nos primeiros 15 minutos eram mais impacientes, impulsivas e com tendências a tomar decisões precipitadas e equivocadas.

    Dominar o autocontrole é a chave para optar por escolhas inteligentes. Da próxima vez em que perceber sua ansiedade prestes a estragar uma negociação ou que sentir o impulso de pedir um aumento ao chefe em um momento inoportuno, pense bem no experimento acima. A vida pode ter uma variedade de doces a lhe oferecer se você tiver ponderação nas suas escolhas.

    Post escrito em parceria com Karina Alves, editora do site Finanças Femininas

    caro dinheiro

    Escreveu até novembro de 2015

    por samy dana

    Ph.D em Business, doutorado em administração, mestrado e bacharelado em economia. É professor na Escola de Administração de Empresas de São Paulo da FGV.

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