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    Caro Dinheiro

    Não acredite com tanta convicção em suas primeiras impressões

    23/05/2015 02h00

    Se lhe alguém disser o ditado que "nem tudo que reluz é ouro", você provavelmente vai se lembrar de um livro de fábulas da sua infância. Mas o fato é que esse ditado está permanentemente em nossa rotina, das situações mais banais a outras que têm impacto direto em nossos bolsos.

    Para falar sobre isso, vamos começar dando um exemplo muito simples. Pense no seu principal ídolo. Pode ser alguém próximo, um ator, um cantor, uma figura religiosa, enfim, seja lá quem for, tudo que vem a sua cabeça neste momento são os diversos atributos que você enxerga nesta pessoa, não é mesmo?

    Se nós dissermos, por exemplo, que seu ídolo fez um filme de péssimo gosto, você provavelmente vai retrucar de imediato. Ainda que você concorde que o filme seja ruim, sua tendência será formular algum argumento para defendê-lo e justificar o fato de ter feito aquele trabalho.

    Quando gostamos de alguém ou alguma coisa, nosso impulso é gostar de tudo que diz respeito a ela. No ramo da psicologia, isso é conhecido como efeito Halo. O termo pode até não ser comum, mas resume com muita precisão a tendência que nossa mente tem em fazer associações de acordo com nossas impressões iniciais, deixando para segundo plano um raciocínio mais criterioso que poderíamos fazer.

    Pense na seguinte situação: você tem uma empresa e precisa do apoio de investidores para dar início a um projeto ambicioso. Em um evento social, você conhece um empresário carismático e amistoso. O primeiro contato favorável e essas características (as quais você aprecia), levam você a crer que ele será um bom candidato a colocar capital em seu projeto.

    Mas o que leva você a crer que o fato de ser amigável e ter carisma o fará colocar as mãos no bolso para apostar em seu projeto? Ter criado uma boa impressão a respeito daquela pessoa deixou você predisposto a acreditar que ela poderia lhe ajudar, ainda que as características positivas dela não tenham qualquer relação com os critérios que ela usa para definir como vai investir o próprio dinheiro.

    A ordem a que somos expostos a algumas informações influi e muito no nosso modo de pensar. O psicólogo Solomon Asch fez um experimento que mostra isso com muita nitidez. Se você coloca dois rapazes lado a lado e recebe a informação de que o primeiro é inteligente, impulsivo, obstinado e invejoso, enquanto o segundo é invejoso, impulsivo, obstinado e inteligente, sua tendência será de ter uma impressão mais favorável do primeiro rapaz.

    Em sua mente, a obstinação e a impulsividade podem ser justificáveis em uma pessoa inteligente, mas uma pessoa invejosa, impulsiva e com inteligência será vista como perigosa. No fim das contas, os dois rapazes possuem as mesmas características, mas você tem uma certa relutância a perceber isso porque mantem o foco nos primeiros adjetivos.

    O grande problema de tudo isso é que ficamos sujeitos a acreditar em falsas impressões. Um gerente de banco extremamente simpático terá maior facilidade de lhe empurrar um produto mais favorável à instituição do que ao seu bolso.

    Assim como uma pessoa que não lhe causou uma ótima impressão em um primeiro momento pode surpreender e mostrar interesse em conhecer mais sobre o projeto da sua empresa. Você pode até tender naturalmente a concordar com aquela história de que "a primeira impressão é a que fica", mas fazer um esforço para contrariar a sua tendência pode lhe trazer muitos benefícios ao longo da vida.

    Post escrito em parceria com Karina Alves, editora do site Finanças Femininas

    caro dinheiro

    Escreveu até novembro de 2015

    por samy dana

    Ph.D em Business, doutorado em administração, mestrado e bacharelado em economia. É professor na Escola de Administração de Empresas de São Paulo da FGV.

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