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    Caro Dinheiro

    Receita para um desempenho melhor no trabalho

    28/05/2015 02h00

    Você entra no supermercado e descobre uma nova bebida energética: SoBe Adrenaline Rush. A promessa é diferente dos energéticos comuns e pretende "melhorar o seu jogo" e trazer "funcionalidade superior". Com tantos desafios no seu dia a dia, você resolve testar a bebida. Mas será que o preço dela vai influenciar quão "energizado" você se sente depois de tomá-la?

    No livro "Previsivelmente Irracional", Dan Ariely descreve dois experimentos para avaliar justamente essa questão. No primeiro, a bebida foi oferecida na entrada da academia dos estudantes da Universidade de Iowa. O primeiro grupo dos alunos pagava o preço normal da bebida, enquanto o segundo comprava a um desconto enorme e pagava apenas um terço do valor.

    Depois de se exercitarem, eles deviam contar se estavam se sentindo mais ou menos cansados do que normalmente. Os dois grupos afirmaram que depois de terem experimentado SoBe, eles se sentiam um pouco menos cansados que o habitual. No entanto, os estudantes que tomaram a bebida com o preço cheio registraram menos cansaço do que os que compraram com desconto.

    Se você acha que esse estudo é parcial, uma vez que é baseado nas impressões dos estudantes, você está certo. O segundo experimento foi, então, montado para ser completamente objetivo. Uma das promessas da bebida era que ela trazia "energia para a mente".

    Para testar isso, a bebida foi oferecida novamente para dois grupos, um com o preço cheio e outro com desconto. Depois de tomar as bebidas, eles tinham 30 minutos para trabalhar em um quebra-cabeças com anagramas e indicar o maior número de palavras possível. O grupo de controle não bebeu SoBe.

    Os resultados? Quem não bebeu nada conseguiu alcançar 9 de 15 possíveis respostas, e quem tomou a bebida a preço cheio conseguiu o mesmo resultado: 9. Já quem comprou SoBe com desconto conseguiu, em média, registrar apenas 6,5 respostas corretas. Ou seja: o preço importou, com uma diferença de 28% no desempenho com os anagramas.

    Para avaliar se o produto não tinha efeito nenhum, foi criado um terceiro experimento. Neste, antes de preencherem as respostas do teste de anagramas, os alunos liam a seguinte mensagem: "Está comprovado que bebidas como SoBe aprimoram as funções mentais, resultando em melhor desempenho de tarefas, como solução de quebra-cabeças".

    Neste caso, a mensagem exerceu influência sobre quem tomou a bebida: quem tomou com desconto conseguiu melhorar seu desempenho em 0,6 ponto, e quem tomou a bebida com o preço cheio conseguiu responder, em média, mais 3,3 questões adicionais.

    As conclusões são impressionantes: o papel do preço e da mensagem com as promessas da bebida foram muito mais poderosos do que a bebida em si. Se você duvida, pare para refletir sobre os seus próprios rituais de produtividade.

    Quem tem uma caneta especial para assinar contratos importantes, gosta de começar o dia de trabalho de uma forma determinada (checando e-mails, fazendo um alongamento ou o que quer que seja) ou tem um tipo de equipamento eletrônico que você tem certeza que melhora o seu rendimento no trabalho (um aplicativo especial, um relógio inteligente, uma pulseira que monitora os seus passos), tome cuidado: você pode acreditar tanto no papel desses itens que a sua crença é mais relevante do que eles.

    Post em parceria com Carolina Ruhman Sandler, jornalista, fundadora do site Finanças Femininas e coautora do livro "Finanças femininas - Como organizar suas contas, aprender a investir e realizar seus sonhos" (Saraiva)

    caro dinheiro

    Escreveu até novembro de 2015

    por samy dana

    Ph.D em Business, doutorado em administração, mestrado e bacharelado em economia. É professor na Escola de Administração de Empresas de São Paulo da FGV.

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