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    Caro Dinheiro

    Você aceitaria dinheiro de graça?

    04/06/2015 02h00

    Imagine a seguinte cena: na hora do almoço, você passa na frente de um grande centro comercial, cheio de restaurantes. Ao lado deles, você vê de relance um estande com uma grande placa que diz "Dinheiro de graça".

    Você passa mais perto para ver do que se trata e na frente do estande, vê uma placa menor com a indicação do valor disponível. Estudantes estão dentro do estande e no balcão está uma pilha de notas de dinheiro no valor estabelecido.

    O QUE VOCÊ FAZ?

    Se a expressão "de graça, até injeção na testa" fosse verdadeira em todos os momentos, as notas de dinheiro se acabariam logo. O processo seria todo tão rápido que as suas chances de chegar a tempo no estande seriam ínfimas. Provavelmente, você nem teria ficado sabendo que havia uma distribuição de notas de dinheiro de graça no seu percurso do almoço.

    No entanto, algo não parece certo. Aqui parece reinar uma outra expressão, preferida por economistas, de que "não existe almoço grátis" (por sinal, apropriada para a ocasião). Estamos sempre certos de que existe alguma intenção escondida ou uma pegadinha pronta. Afinal, por que alguém distribuiria dinheiro de graça, sem ter nada em troca?

    Neste caso, o motivo é simples: para estudar o nosso nível de desconfiança. Se você foi um dos que passou pelo estande que Dan Ariely, autor de "Previsivelmente Irracional" montou em uma manhã em um centro comercial em Cambridge, no Massachusetts, as chances de que você parou para pegar a sua nota de dinheiro gratuita são baixas.

    Quando a placa dizia que você podia pegar uma nota de US$ 1, apenas 1% dos passantes foram buscar a sua. Conforme a oferta subia (para US$ 5, US$ 10, US$ 20), o número de pessoas que pegava uma aumentava - mas ainda assim, muito pouco. Mesmo quando ofereceram US$ 50, apenas 19% dos passantes parou para pegar uma nota.

    "Claramente, a grande maioria acreditou que era algum tipo de truque - de tal forma que não valia a pena nem perguntar", relata Ariely. Afinal, vemos tantos esquemas dúbios, empresas corruptas, ofertas enganosas e propagandas exageradas que somos todos muito desconfiados - até de quem não precisa.

    O alto nível de desconfiança generalizada encontrado com este estudo revela um cenário grave, pois a confiança funciona como um "lubrificante" da economia, segundo Ariely: "quando as pessoas confiam umas nas outras, elas tendem mais a comprar, emprestar e conceder crédito". Sem confiança, temos mais dificuldade de acreditar em quem merece e até de se manter correto, em um mundo onde todos tentam tirar vantagem dos outros.

    Post em parceria com Carolina Ruhman Sandler, jornalista, fundadora do site Finanças Femininas e coautora do livro "Finanças femininas - Como organizar suas contas, aprender a investir e realizar seus sonhos" (Saraiva)

    caro dinheiro

    Escreveu até novembro de 2015

    por samy dana

    Ph.D em Business, doutorado em administração, mestrado e bacharelado em economia. É professor na Escola de Administração de Empresas de São Paulo da FGV.

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