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    Caro Dinheiro

    Você ainda economiza água?

    11/06/2015 02h00

    No início do ano, tudo o que se falava em São Paulo era a crise hídrica. O medo do desabastecimento, os prováveis esquemas de rodízio, todas as formas de economizar água possíveis. No entanto, assim que a Sabesp anunciou que não haveria rodízio de água neste ano, o assunto aparentemente morreu.

    Os jornais ainda trazem notícias diárias sobre os baixos níveis das represas –o volume da Cantareira, por exemplo, segue na faixa dos 20% do total. O nível é perigoso, mas parece confortável quando comparado com a mínima de 7% atingida em fevereiro.

    No início do ano, falar em lavar o carro ou em banhos longos era o que havia de errado com o mundo. No entanto, quantos mantiveram estratégias de uso restrito de água depois do pico da crise? As chances são de que muitos voltaram a consumir água da mesma forma que antes da crise. Segundo analistas, a situação ainda é crítica –mas será que todos conseguem percebê-la?

    O risco que corremos é o de cair naquilo que o professor de Oxford William Forster Lloyd chamou em 1833 de "tragédia dos comuns". A frase é usada para explicar o conflito entre os interesses individuais (um banho demorado após um longo dia de trabalho) e os recursos finitos usados pela comunidade, em prol do bem comum (não esgotar as nossas reservas de água).

    Lloyd destacou que na Inglaterra medieval, as paróquias tinham terras comunais, nas quais os membros da comunidade podiam criar vacas e ovelhas. Era do interesse de todos manter um rico pasto para os animais, mas isso só podia ser atingido caso todos os indivíduos criassem um número limitado de animais –isso permitia que a grama crescesse em um ritmo adequado para a demanda dos animais.

    No entanto, alguns fazendeiros mais egoístas decidiam aumentar o seu número de animais nas terras comunais –levando ao esgotamento da terra. Essa era uma estratégia boa para aqueles poucos fazendeiros mais ambiciosos no curto prazo, mas ruim para todos no médio e longo prazo –inclusive os gananciosos, que também sofriam com a queda da qualidade da terra, que se tornava esgotada e pouco produtiva.

    A tragédia dos comuns pode ser vista na nossa crise hídrica –se alguns indivíduos decidem usar mais do que a sua cota do bem comum, ele pode ter um benefício de curto prazo, mas colabora para o esgotamento da água. O nível de consumo se torna insustentável e todos saem perdendo no longo prazo.

    Como somos mais focados no curto prazo, somos sempre propensos a subestimar os efeitos das ações em um horizonte maior. Se alguns poucos assumem comportamentos danosos, o efeito é grande para o bem comum.

    Post em parceria com Carolina Ruhman Sandler, jornalista, fundadora do site Finanças Femininas e coautora do livro "Finanças femininas - Como organizar suas contas, aprender a investir e realizar seus sonhos" (Saraiva)

    caro dinheiro

    Escreveu até novembro de 2015

    por samy dana

    Ph.D em Business, doutorado em administração, mestrado e bacharelado em economia. É professor na Escola de Administração de Empresas de São Paulo da FGV.

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