• Colunistas

    Wednesday, 08-May-2024 16:29:43 -03
    Caro Dinheiro

    Você realmente sabe interpretar estatísticas?

    18/07/2015 02h00

    O que parece mais fácil: prever o que vai acontecer se você arremessar um prato de porcelana contra a parede ou saber se a incidência de gripe é maior em São Paulo ou Campos do Jordão? A resposta para a primeira situação com certeza virá de modo praticamente automático.

    Sem hesitar, você tem plena certeza de que o prato vai quebrar. Porcelana é frágil, logo o impacto é suficiente para que a peça se desfaça em muitos cacos. Essa história faz sentido e você não precisa de reflexão para entender o que acontece.

    No entanto, se uma pesquisa por amostragem indicasse que a incidência de gripe é maior em Campos do Jordão do que em São Paulo, você poderia ficar intrigado e tentaria supor motivos para essa diferença. Seu impulso natural seria buscar algum fator que desse sentido a isso. Se alguém dissesse que a incidência maior acontece em função do clima mais frio, seria possível que você se mostrasse predisposto a acreditar.

    O que não viria à mente de imediato - e seria a explicação correta para a diferença - é o fato de a população de Campos do Jordão ser menor do que a de São Paulo.

    No livro "Rápido e Devagar: Duas formas de pensar", o psicólogo Daniel Kahneman mostra, de um modo geral, que nós concordamos ser mais fácil encontrar resultados mais precisos quando analisamos amostras grandes do que amostras pequenas. Por outro lado, temos dificuldade de entender que é exatamente a mesma coisa dizer que amostras pequenas produzem resultados extremos com mais frequência.

    A dificuldade explica, por exemplo, porque somos propensos a concordar com informações tendenciosas. O fato é que somos ávidos por criar histórias, encontrar uma ligação para explicar a estatística, ainda que ela seja completamente aleatória. Este site traz uma série de correlações espúrias, que podem servir como base para criar factoides.

    Ele mostra, por exemplo, que os investimentos dos EUA em ciência, astronomia e tecnologia cresceram na mesma proporção que a taxa de suicídio por enforcamento, estrangulamento e sufocação. O dado é interessante, mas uma coisa não tem nada a ver com a outra.

    Em uma pesquisa eleitoral, você pode cair na armadilha de crer que o candidato A tem mais força que o B em seu Estado porque teve aprovação em um expressivo número de cidades. Mas a análise inicial não leva em conta o tamanho da população de cada uma dessas cidades.

    Essa tendência a criar ligações aleatórias para tentar justificar estatísticas pode levar a erros graves na análise de relatórios sobre os resultados de uma empresa, por exemplo. Quando estiver revisando o seu balanço, lembre-se dos exemplos acima. Uma resposta óbvia para um problema complexo pode ser o passo para o fracasso do seu empreendimento.

    Post feito em parceria com Karina Alves, editora do site Finanças Femininas

    caro dinheiro

    Escreveu até novembro de 2015

    por samy dana

    Ph.D em Business, doutorado em administração, mestrado e bacharelado em economia. É professor na Escola de Administração de Empresas de São Paulo da FGV.

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024