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    Caro Dinheiro - Samy Dana

    Pare de tentar encontrar motivo para tudo que acontece

    01/08/2015 02h00

    Como você reagiria se alguém dissesse que nem tudo que acontece ao seu redor tem explicação causal? E se você tivesse que admitir a si mesmo que muito do que vê no mundo é fruto de pura aleatoriedade? É contraintuitivo admitir isso, nós sabemos. Mas é a verdade. Aliás, buscar sempre uma causa pode nos levar a erros bem graves, como veremos a seguir.

    No livro "Rápido e Devagar: Duas formas de pensar", o psicólogo Daniel Kahneman traz um exemplo bem nítido de como nossa mente tende a rejeitar o acaso. Pense em uma maternidade e em uma sequência de bebês nascidos em uma noite. Se dissessem para você que nasceram, nesta ordem, um menino, duas meninas, dois meninos e uma menina, é bem provável que você achasse mais plausível que uma sequência de seis meninas.

    Mas veja bem, os nascimentos são independentes, portanto, as possibilidades de menino ou menina são iguais. Ou seja, por mais que pareça difícil de crer, a sequência de seis meninas ou seis meninos é tão provável como qualquer outra.

    O mesmo princípio vale para um jogo de loteria, por exemplo. Já notou como fica surpreso quando três números sequenciais aparecem entre os sorteados? Por mais que seja difícil admitir, a sequência 04 11 24 33 42 50 é tão provável quando 01 02 03 04 05 06.

    Vamos pensar na aleatoriedade em exemplos mais complexos. O autor do livro cita algumas considerações do estatístico William Feller, que trouxe uma situação muito clara de como as pessoas podem facilmente enxergar padrões onde não existem.

    Na Segunda Guerra Mundial, durante um intenso bombardeio a Londres, foi despertada uma crença de que os ataques não eram aleatórios, porque o mapa apontava lacunas óbvias. Houve uma suspeita de que espiões alemães estivessem escondidos nas áreas não atingidas. No entanto, uma análise estatística demonstrou que a distribuição dos locais bombardeados era típica de um processo aleatório.

    Leve isso para o cotidiano: você deve ter notado que nos últimos anos houve uma explosão de startups no mercado. Muitos tentam, alguns prosperam, mas não há uma relação causal evidente. No entanto, o sucesso de algumas acaba impulsionando o nascimento (e o fracasso) de muitas outras.

    O gestor de um fundo, por exemplo, pode acertar em três investimentos em sequência e as pessoas imaginarem que ele seja um gênio, mas os acertos podem ter ocorrido por mero acaso. Nosso ímpeto em encontrar relações causais a todo momento pode nos levar a tomar conclusões precipitadas e rasas.

    Post escrito em parceria com Karina Alves, editora do site Finanças Femininas

    caro dinheiro

    Escreveu até novembro de 2015

    por samy dana

    Ph.D em Business, doutorado em administração, mestrado e bacharelado em economia. É professor na Escola de Administração de Empresas de São Paulo da FGV.

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