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    Caro Dinheiro - Samy Dana

    O que determina a capacidade de fazer uma boa negociação?

    15/08/2015 02h00

    Você chega em casa de carro novo e mostra a aquisição para a família, feliz da vida. Depois de muito conversar com o vendedor, comprou o veículo por R$ 50 mil. Apesar de o valor ser salgado, você saiu da concessionária satisfeito, tendo em vista que conseguiu alguns opcionais e o preço inicial dado pelo vendedor foi de R$ 55 mil.

    Para jogar um balde de água fria em sua satisfação, no domingo você vai à casa de seu cunhado e descobre que ele comprou o mesmo carro - tão completo quanto o seu - por R$ 45 mil. O primeiro pensamento que vem à cabeça é: "eu batalhei tanto para conseguir o desconto, como ele conseguiu fazer isso?".

    Nesse caso hipotético, o mais provável é que seu cunhado tenha começado a negociação por um valor bem abaixo do seu. Enquanto para você o vendedor iniciou com um teto de R$ 55 mil —valor que poderia lhe render uma boa margem de lucro—, seu cunhado conduziu a negociação de modo que o teto fosse bem abaixo do seu, o que deu margem para trabalhar um valor melhor.

    Durante negociações, somos influenciados pelo que é conhecido como efeito de ancoragem. O psicólogo Daniel Kahneman exemplifica como isso acontece em nossa mente com duas perguntas simples: você acha que Gandhi tinha mais ou menos que 144 anos quando morreu? Que idade tinha Gandhi quando morreu?

    Intuitivamente você assume que 144 é uma idade avançada demais e que ele provavelmente não chegou a viver tudo isso, mas você deve ter imaginado uma pessoa muito velha. O número serviu para ancorar sua estimativa mais próxima de uma idade avançada, o que é chamado de priming. O mecanismo é o mesmo quando você negocia um produto, como o exemplo acima.

    A quem tiver curiosidade, o filme Focus traz uma cena com um exemplo muito claro de como funciona o efeito de priming. Na trama, o protagonista é um trapaceiro experiente. Em determinado momento, ele mostra como usou a técnica de primar um número para enganar um apostador compulsivo e ganhar muito dinheiro às custas dele.

    Quando precisar fechar um negócio, seja autocrítico. Reflita sobre os valores que estão sendo colocados na mesa e observe se você pode estar sendo influenciado por números aleatórios que estão "primados" em sua cabeça. Aprender a controlar bem suas âncoras pode lhe render habilidades como um bom negociador.

    Post escrito em parceria com Karina Alves, editora do site Finanças Femininas

    caro dinheiro

    Escreveu até novembro de 2015

    por samy dana

    Ph.D em Business, doutorado em administração, mestrado e bacharelado em economia. É professor na Escola de Administração de Empresas de São Paulo da FGV.

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