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    Caro Dinheiro - Samy Dana

    Tudo que você precisa considerar antes de fazer uma compra

    28/08/2015 02h00

    Quantas vezes você se questiona mentalmente antes de fazer uma compra? Quais são os critérios que utiliza para avaliar se realmente precisa levar aquele produto para casa? A publicidade está sempre em busca de vender um ideal e um estilo de vida —por mais surreal e fora da realidade que ele pareça—, e isso não é novidade para ninguém.

    O interessante é que, desde o século XIX, a necessidade de consumo começou a ser moldada pela indústria. Ela constantemente se reinventa para que continuemos consumindo mais e tenhamos cada vez menos senso crítico antes de realizar uma compra.

    A primeira parte do documentário britânico "The Men Who Made us Spend" traz um resumo histórico de como a agenda do consumo se transformou ao longo do tempo. Se a revolução industrial foi responsável por produzir demanda, a década de 1920 trouxe sua parcela para o aumento do consumo com a expansão do crédito.

    No início da indústria automobilística, Henry Ford eternizou seu nome por estabelecer um modelo de produção em massa que impactaria não só o mercado de carros, mas a indústria de um modo geral. Acontece que, em um determinado momento, o modelo de carro criado por ele se popularizou de tal modo que as pessoas compravam e não tinham mais um "próximo objetivo".

    Neste momento, entra em cena Alfred Sloan, que atuou como presidente da General Motors por mais de 20 anos. Sua ideia ainda é replicada hoje. Um carro é lançado e, no ano seguinte, o mercado lança um "upgrade" do modelo.

    Cores vivas como esmaltes de unha, cuidado com os detalhes, tudo para os olhos dos consumidores brilharem cada vez mais. A ideia se encaixou como uma luva nos Estados Unidos da década de 1950, quando o país vivia o ápice do "American Dream".

    Mais tarde, na década de 1980, veríamos uma nova transformação que levaria as pessoas a adotarem um modelo de consumo mais individualista, focado na necessidade de se sentirem únicas, a conhecida valorização da exclusividade.

    Mike Riddle criou o AutoCad, programa que possibilitou uma revolução no modo de produzir embalagens. No lugar dos velhos padrões, agora os produtos poderiam ser produzidos em inúmeros tipos de formatos, reforçando a ideia de exclusividade e diferencial.

    O próximo passo veio na década de 1990, com a cultura dos produtos descartáveis. Tudo é feito para durar pouco e para ser rapidamente substituído. O consumo desenfreado gerou um problema ambiental que ainda não conseguimos reverter. Nos últimos 30 anos, cerca de um terço dos recursos naturais do planeta foram consumidos.

    O retrospecto negativo se soma a um outro fator que agora estamos vendo com clareza: o uso do crédito de modo desregrado. Avalie todo esse resumo de como o consumo se moldou ao longo do tempo para crescer continuamente e reveja seus gastos não só pelo momento de crise econômica. Vivemos um momento de transformação e o senso crítico precisa ter um papel mais atuante antes que você passe o cartão na máquina.

    caro dinheiro

    Escreveu até novembro de 2015

    por samy dana

    Ph.D em Business, doutorado em administração, mestrado e bacharelado em economia. É professor na Escola de Administração de Empresas de São Paulo da FGV.

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