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    Caro Dinheiro - Samy Dana

    Mundo Econômico

    25/08/2015 10h15

    PANORAMA MUNDO

    Nas últimas décadas, a China registrou taxas de crescimento da atividade econômica espetaculares, devido principalmente à magnitude das exportações realizadas. Durante a crise de 2008, por exemplo, que atingiu fortemente inúmeras economias avançadas —como os Estados Unidos e diversos países da Europa—, a taxa de crescimento chinesa continuou no patamar dos 9% a 10% ao ano.

    Contudo, o ritmo de crescimento da economia chinesa vem decaindo e deixando muitos analistas preocupados, já que essa desaceleração pode significar que o modelo de crescimento utilizado esteja chegando ao seu limite.

    Assim, pode ser necessário encontrar outros meios que propiciem a continuidade da expansão chinesa, como o aumento da potencial demanda interna —hoje quase inexistente devido aos baixos salários, à desigualdade social e à insegurança dos chineses, que preferem poupar a consumir.

    Apenas neste ano, a China já apresentou uma série de dados desanimadores para o mercado: além de sofrer a maior desaceleração econômica desde 1989, as importações do país recuaram 34% de janeiro a julho.

    A diminuição da atividade econômica vem afetando os mercados globais. Na última semana, as Bolsas fecharam em queda após o setor industrial chinês apresentar dados que revelaram a queda mais rápida do ritmo de crescimento do setor desde a crise financeira de 2008.

    O fraco indicador da China resultou em uma onda de liquidação nos mercados acionários de Ásia, Europa e América Latina, assim como novos declínios nas cotações das commodities.

    Para conter o recuo das exportações, o banco central chinês promoveu a maior desvalorização do yuan dos últimos 20 anos. Ao depreciar a moeda local, as exportações chinesas ficam mais competitivas internacionalmente. Nos últimos anos, a competitividade vinha caindo devido ao enriquecimento do país, que eleva os custos da produção, tornando os produtos a serem exportados menos competitivos do que os de outros países.

    Além de exercer pressão de baixa nas principais Bolsas de valores do mundo, a medida adotada pelo governo chinês gerou uma desvalorização cambial internacional que afetará principalmente os mercados emergentes.

    No curto prazo, ao mesmo tempo em que a desvalorização das moedas dos países em desenvolvimento pode ser prejudicial para suas economias, isso torna suas exportações mais competitivas em âmbito global e é um estimulo muito conveniente para o momento atual vivenciado pelos exportadores de commodities da América Latina.

    Assim, a queda da atividade passa a gerar questionamentos sobre o possível esgotamento do atual modelo de crescimento do governo chinês, que vem ensaiando uma possível troca de modelo, ao optar pela desvalorização cambial em detrimento de uma "repressão salarial".

    Ao não escolher a segunda opção, o governo indica que tem o objetivo de depender menos dos investimentos e mais do consumo interno, que só se expandirá com um nível salarial que possibilite um adequado poder de compra para sua imensa demanda interna.

    PANORAMA BRASIL

    A adoção de políticas expansionistas baseadas no aumento do consumo interno, que trouxeram um alto ritmo de crescimento econômico para o Brasil e possibilitaram a rápida saída da crise de 2008, além de produzirem uma pressão inflacionária após o período de expansão, também são medidas que trazem benefícios apenas no curto prazo e não se sustentam no longo prazo.

    A própria pressão inflacionária e o endividamento dos consumidores acabam por diminuir o volume de bens demandados. Esse cenário, posterior ao de alto ritmo de crescimento, é o atual quadro brasileiro em que a inflação acumulada se encontra muito acima do teto da meta definido pelo CMN (Conselho Monetário Nacional).

    Junto à crise econômica, ainda pode ser acrescentada uma turbulência política. Em conjunto, elas afetam o crescimento da atividade econômica brasileira e em especial do setor industrial, cuja fragilidade e falta de competitividade vêm sendo ressaltadas desde o primeiro mandato da presidente Dilma Rousseff.

    Esse contexto macroeconômico vem mitigando os investimentos no setor industrial brasileiro. Isso porque as expectativas dos empresários são pessimistas: não esperam um aumento do consumo devido ao endividamento dos brasileiros e ainda esperam o aprofundamento da crise econômica. Assim, não acreditam que o ambiente econômico se tornará propício para o aumento de investimentos nos próximos anos.

    Além dos fatores citados, a confiança dos empresários também diminui por causa da intensificação de fatores como a alta dos impostos, o aumento dos juros e dos custos de produção e o atual ritmo de atividade do setor, que novamente apresentou contração em julho.

    Além disso, o atual pessimismo e contração da atividade são vivenciados em conjunto com o aumento da taxa de desemprego e da expectativa da mesma —aumento esse inerente às políticas expansionistas adotadas no governo Lula. Dados divulgados pelo Caged mostraram que o país fechou mais de 157 mil postos de trabalho no mês de julho, o pior resultado para o mês desde julho de 1992.

    Assim, os impactos causados pela política de juros elevados e pela atual crise política e econômica colocam o Brasil em um círculo vicioso bastante danoso para a economia. Nesse ciclo, os altos juros deixam o capital de giro mais caro, aumentando os custos de investimentos. Também diminuem as vendas, aumentando o desemprego, indicando que a crise ainda pode se aprofundar nos próximos anos.

    Post em parceria com Matheus Corrêa de Oliveira, graduando em administração de empresas pela Fundação Getulio Vargas e consultor pela Consultoria Junior de Economia

    caro dinheiro

    Escreveu até novembro de 2015

    por samy dana

    Ph.D em Business, doutorado em administração, mestrado e bacharelado em economia. É professor na Escola de Administração de Empresas de São Paulo da FGV.

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