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    Caro Dinheiro - Samy Dana

    Promoções sem planejamento são armadilha para comprometer o bolso

    04/09/2015 02h00

    Em uma de suas ilustrações sobre o mundo contemporâneo e nosso modo de consumir, o artista Steve Cutts retrata uma pessoa em estado praticamente vegetativo, ligada a aparelhos que a mantém consumindo mesmo sem vida. De um modo geral, o consumo impulsivo não é fomentado apenas pela beleza da propaganda. A indústria e o comércio também se valem de elementos psicológicos para incentivar os gastos automáticos.

    E para quem acha que o consumismo por impulso acontece somente nos shoppings e lojas on-line, pesquisa recente do SPC Brasil e da Confederação Nacional dos Dirigentes Lojistas (CNDL) mostrou que 33% das compras impulsivas foram feitas no supermercado, seguido por roupas (19,2%) e eletrônicos (13,2%).

    Independentemente de qual for o produto desejado, a pesquisa mostrou que 30% dos entrevistados foram influenciados por acharem que estavam fazendo um ótimo negócio pelo fato de o preço ser bom. Outros 20% se levaram pela ansiedade de precisar aproveitar o momento para ter o produto naquela hora.

    Em nossa mente, isso gera uma inversão de valores. Acreditamos que estamos "economizando" comprando determinado produto por um valor abaixo do que é cobrado no mercado, quando na verdade não precisamos daquilo que está em oferta.

    Aliás, outro dado na pesquisa chama a atenção quando falamos de consumismo: quase 29% dos entrevistados disseram que sentem um desconforto após a compra. A insatisfação após a compra é reflexo da culpa ao confrontarem a realidade do quanto terão que trabalhar para pagarem pelo que foi comprado.

    O SPC e a CNDL mostraram que, em média, o consumidor brasileiro faz três compras parceladas, sendo que 35% delas são feitas por impulso.

    Neste ponto, voltamos à ilustração de Steve Cutts. A etiqueta vermelha que aponta um "desconto imperdível" é o fio condutor para uma vida vegetativa. Mais compras sem necessidade, mais produtos acumulados em casa, mais dívidas, mais trabalho e menos sentido em manter esse ciclo de um modo infindável.

    O consumo sem reflexão não supre nossas necessidades, muito pelo contrário: aumenta a ansiedade em continuar comprando e valorizando a posse, a imagem, o status.

    Antes de levar um produto para o caixa, por mais tentador que ele pareça, questione-se sobre a real necessidade dele em sua vida.

    Pense também se você tem condições de pagar por ele sem precisar passar sufoco com seu orçamento. Se for preciso se endividar e o produto não for realmente essencial, desista da compra. Acredite, aquela etiqueta vermelha não indica um bom negócio. Levar uma vida tranquila e sem o peso da culpa de dívidas desnecessárias é o melhor negócio que você pode fazer.

    caro dinheiro

    Escreveu até novembro de 2015

    por samy dana

    Ph.D em Business, doutorado em administração, mestrado e bacharelado em economia. É professor na Escola de Administração de Empresas de São Paulo da FGV.

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