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    Caro Dinheiro - Samy Dana

    Medo pode ser muito mais trágico que potencial de estrago de uma crise

    05/09/2015 02h00

    O que você acha que acontece com mais frequência: mortes por acidentes ou por derrame? Se você tiver presenciado ou lido a notícia de um acidente gravíssimo nos últimos dias, é bem possível que atribua às tragédias um número maior de mortes do que ao derrame.

    Em uma outra ponta, pense em uma situação simples: você tem mais medo de seu empreendimento falir neste ano do que tinha há três anos? É bem possível que a resposta seja sim, tendo em vista o cenário de crise econômica no país.

    Essa correlação pode ser explicada cientificamente. Nos estudos sobre psicologia econômica, existe um conceito chamado de heurística de disponibilidade. De um modo geral, temos mais facilidade de evocar na memória fatos marcantes mais recentes. Sendo assim, nosso temor em relação a um acidente de trânsito fica mais evidente quando temos contato com uma exposição constante da mídia sobre o assunto.

    Como eventos trágicos ou muito fora do comum são abordados pela imprensa com mais destaque, um grupo de psicólogos cognitivos resolveu fazer experimentos neste sentido e mostrou justamente como o julgamento das pessoas é afetado de acordo com os moldes da cobertura midiática.

    Entre as situações colocadas, os participantes acreditavam que o número de mortes por acidentes era 80% maior do que os óbitos causados por derrame, sendo que na verdade a causa subestimada provocava o dobro de mortes em relação aos acidentes de uma forma geral.

    Voltemos então para o contexto econômico. Todos os dias você vê destaques no noticiário alertando para a alta do dólar, para os efeitos da crise, o desemprego crescente, a falta de confiança na economia, entre outros assuntos relacionados.

    Somado a tudo isso, tem também a crise política. A exposição do assunto de uma forma constante cria um fenômeno chamado de cascata de disponibilidade. O assunto fica o tempo todo evidente em nossas mentes e afeta a forma como tomamos nossas decisões, deixando que a emoção influencie demasiadamente nossa capacidade de julgamento.

    Ainda que o cenário não seja favorável, a reação negativa às notícias pode acabar tendo um efeito exagerado em termos práticos. Do mesmo modo que uma comunidade que acaba de passar por um terremoto sente-se mais inclinada a investir em medidas de proteção para a casa, seguros e estocagem de alimentos, as pessoas tendem a reagir à crise de um modo protecionista.

    A aversão ao risco aumenta, a visão de longo prazo acaba se contaminando pelo pessimismo e as decisões também acabam sendo moldadas pelo medo. Ainda que o cenário econômico não esteja em sua melhor fase, reagir ao mau momento com desespero ou extremismo só tende a trazer resultados mais catastróficos para suas finanças.

    Antes de reagir de uma forma completamente emocional, procure ponderar um pouco mais e ampliar seus horizontes. Apesar de já ser clichê, nas horas de aflição com as notícias sobre a economia, as pessoas tendem a ignorar o fato de que uma crise sempre pode trazer novas oportunidades.

    Post escrito em parceria com Karina Alves, editora do site Finanças Femininas

    caro dinheiro

    Escreveu até novembro de 2015

    por samy dana

    Ph.D em Business, doutorado em administração, mestrado e bacharelado em economia. É professor na Escola de Administração de Empresas de São Paulo da FGV.

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