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    Caro Dinheiro - Samy Dana

    Mundo Econômico

    15/09/2015 10h01

    PANORAMA MUNDO

    Nesta quinta-feira (17), o Federal Reserve (Fed, banco central americano) vai decidir se continua com a política de taxas de juros próximas de zero ou se inicia um ciclo de aperto monetário. Normalmente, os bancos centrais tendem a subir as taxas de juros quando a economia está numa trajetória de crescimento acelerado e as pressões inflacionárias começam a surgir.

    No segundo semestre, o PIB dos Estados Unidos cresceu à taxa anualizada de 3,7%, número bastante positivo. A inflação, por outro lado, ainda está bastante abaixo da meta estipulada pelo Fed, mesmo após excluir itens mais voláteis como alimentos e energia, que sofreram um choque deflacionário nos últimos meses.

    Os dados vindos do mercado de trabalho são bastante sólidos. O país tem criado muitos postos de trabalho e a taxa de desemprego está em níveis pré-crise de 2008. Um mercado de trabalho aquecido tende a gerar salários mais altos e a aumentar a renda disponível das famílias, e assim gerar pressões inflacionárias devido ao aumento da demanda.

    No entanto, isso não tem sido observado, e o baixo nível de desemprego não se refletido em maiores salários e preços mais altos ao consumidor. Não apenas a inflação tem sido baixa, mas também a expectativa de inflação tem se mantido abaixo dos 2% ao ano para a próxima década.

    Entre os defensores do início do aperto monetário, o argumento é de que uma prevenção contra a alta inflação é necessária assim que os dados do mercado de trabalho melhorassem, como de fato melhoraram nos últimos tempos.

    No entanto, diante do atual cenário, o Fed deverá ser cauteloso ao subir as taxas de juros. Isso porque se o aumento for exagerado, a economia local poderá entrar em recessão. Além disso, em uma conjuntura global de taxas de juros baixas (Europa, Japão, entre outros), um aperto monetário por parte do banco central americano teria efeito ampliado, pois atrairia capitais internacionais, valorizando a moeda local e consequentemente diminuindo o preço dos produtos importados.

    Em suma, os dados sugerem que o Fed não precisa iniciar o ciclo de aperto monetário nesse momento, e que devido à conjuntura externa o ciclo de aperto, quando iniciado, deverá ser menos intenso do que os anteriores.

    PANORAMA BRASIL

    Na semana passada, a agência de classificação de risco Standard & Poor's (S&P) rebaixou a nota de crédito do Brasil de 'BBB-' para 'BB+', com perspectiva negativa. Isso significa que o Brasil perdeu o grau de investimento obtido em 2008, quando a situação fiscal estava boa e a expectativa de crescimento era alta. Sendo assim, o desafio econômico do país nesse momento passa a ser ainda maior.

    Do lado monetário, o Brasil enfrenta um dilema. Se por um lado os juros altos agravam a recessão por aumentar o custo de oportunidade dos investimentos produtivos e conter a demanda agregada via aumento do custo do crédito, por outro ele evita que o real se desvalorize ainda mais, pressionando os preços dos bens importados, com o IPCA (índice oficial de inflação) acumulado de 12 meses já superando 9,5%, bem acima do teto da meta estipulada.

    Não bastasse isso, o Brasil possui outro agravante em termos de política monetária, que é o crédito subsidiado, concedido pelo BNDES e pela Caixa Econômica Federal. Com as taxas de juros nos patamares atuais, mais empresas procuram crédito subsidiado, pois não conseguem pagar as taxas do mercado privado, o que reduz a eficácia da política monetária. A parcela de crédito subsidiado cresceu de 35% em 2009 para mais de 55% hoje em dia.

    Dessa forma, os ajustes necessários para a economia brasileira deveriam vir do lado fiscal. A agência S&P foi enfática ao dizer que o rebaixamento se deu por conta da inabilidade do governo de conseguir progredir nas correções fiscais desejadas, além de dizer que a perspectiva é negativa pois existe uma probabilidade alta de a situação fiscal se deteriorar ou de a recessão se agravar ainda mais do que o esperado.

    A situação fiscal do Brasil, de fato, é preocupante. A dívida em dólares mais do que dobrou nos últimos cinco anos, e se considerarmos a dívida na moeda brasileira, ela mais do que triplicou. O serviço da dívida também aumentou, devido à elevação das taxas de juros, e o crédito subsidiado piora ainda mais o cenário, pois o subsídio provém do governo.

    Dito isto, a saída do governo necessariamente passa por aumento das receitas (impostos) ou por diminuição dos gastos. A maneira mais conveniente para o governo fazer o ajuste é por meio do aumento da carga tributária, e não à toa o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, já deu declarações demonstrando seu posicionamento a favor do aumento de impostos.

    No entanto, isso agravaria a recessão —porque reduz a renda disponível dos agentes econômicos— e demonstra a incapacidade do governo de ter ações mais sustentáveis como o corte dos gastos.

    Sendo assim, o ideal seria olhar para o rebaixamento da nota de crédito do Brasil como uma oportunidade de rever os gastos do governo e mover o esforço político para a aprovação do corte de gastos no congresso. Isso ajudaria a restaurar a confiança no país, teria efeitos benéficos na inflação e contribuiria para colocar o Brasil de volta em um rumo de crescimento.

    Post em parceria com Jairo Rytenband, graduando em economia pela Fundação Getulio Vargas e consultor pela Consultoria Junior de Economia

    caro dinheiro

    Escreveu até novembro de 2015

    por samy dana

    Ph.D em Business, doutorado em administração, mestrado e bacharelado em economia. É professor na Escola de Administração de Empresas de São Paulo da FGV.

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