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    Caro Dinheiro - Samy Dana

    E se você precisasse viver com o equivalente a US$ 1 por dia?

    23/09/2015 02h00

    Quando você tem uma despesa inesperada no meio do mês ou percebe que estourou o orçamento com gastos desnecessários, fica de olho no calendário na esperança de que os dias passem bem rápido e o salário caia novamente em sua conta bancária. Se isso já parece difícil, o que você faria se tivesse que viver com o equivalente a US$ 1 por dia?

    Um grupo de quatro jovens universitários americanos resolveu entender melhor como é possível a sobrevivência de comunidades em situação de extrema pobreza. Durante dois meses, os quatro viveram no isolado vilarejo de Peña Blanca, na Guatemala. O resultado do trabalho experimental foi um documentário intitulado "Living on one dollar" (Vivendo com um dólar, tradução livre).

    O choque de realidade e o contato com os moradores locais trouxeram mais aprendizado do que o grupo tinha em mente para a conclusão do trabalho. Muito além da lógica convencional que norteia o modo de vida nos grandes centros —em que você controla um orçamento para bancar sua vida, pagar dívidas no crédito e economizar dinheiro para o futuro—, o desafio deles era conseguir ter o mínimo para o sustento e usar a criatividade para fazer o "pouco durar muito". A descoberta mais enriquecedora dos estudantes foi compreender a importância da solidariedade no vilarejo.

    Eles descobriram, por exemplo, que as famílias se organizam para elaborar uma espécie de poupança coletiva. Cada família dá uma contribuição para um fundo coletivo, sendo que a cada mês o montante total beneficia uma família diferente. Assim, é possível bancar despesas médicas de emergência, fazer melhorias em uma casa —como a construção de um fogão a lenha— ou possibilitar um casamento dentro da própria comunidade.

    O crédito popular oferecido por um banco rural da região é usado para fomentar o empreendedorismo por necessidade. O filme deixa bem claro o senso de responsabilidade dos tomadores do empréstimo, tendo em vista que cada centavo conta para o resultado final do dia. Uma das moradoras da vila, por exemplo, conseguiu iniciar seus trabalhos como autônoma em tecelagem com base no crédito.

    Ela é somente um dos exemplo de mulheres empreendedoras na vila. As soluções adotadas pela comunidade levaram ao empoderamento feminino.

    Vale a pena assistir o documentário com bastante senso crítico e tentar trazer algumas reflexões para a nossa realidade. Como usar o crédito de uma forma mais responsável? Como o orçamento da família pode ser pensado de uma maneira mais estratégica e solidária? Como otimizar despesas básicas, como a alimentação do dia a dia?

    No fim das contas, a escassez traz uma série de lições para nossa sociedade, acostumada desde sempre com a abundância e o desperdício de recursos.

    caro dinheiro

    Escreveu até novembro de 2015

    por samy dana

    Ph.D em Business, doutorado em administração, mestrado e bacharelado em economia. É professor na Escola de Administração de Empresas de São Paulo da FGV.

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