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    Caro Dinheiro - Samy Dana

    Encher as crianças de presentes é jeito mais fácil de torná-las consumistas

    02/10/2015 02h00

    Se resistir aos estímulos do consumo já é tarefa difícil para adultos, pior ainda para as crianças, que ainda estão em fase de construção de conceitos e muitas vezes não sabem diferenciar o que é caro do que é barato, ou mesmo o que é realmente necessário e o que é simplesmente supérfluo.

    Um comportamento reforçado em casa, no entanto, colabora para que as crianças sigam os estímulos consumistas aos quais estão sujeitas no dia a dia. Pesquisa nacional feita pelo SPC Brasil (Serviço de Proteção ao Crédito) e pela CNDL (Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas) mostrou que seis em cada dez mães cedem às vontades dos filhos na hora de fazer compras. Os agrados incluem brinquedos, roupas e doces.

    Outra informação importante trazida na pesquisa é que, em grande partes das vezes, os filhos nem precisam manifestar a vontade de ganhar algo: os presentes fora de hora aparecem por iniciativas de quase 60% das mães entrevistadas.

    De modo geral, somente 15% das entrevistadas disseram dar presentes aos filhos apenas em datas especiais, como aniversário, Dia das Crianças e Natal. Mais grave do que isso é que quatro em cada dez mães disseram já ter se endividado em algum momento da vida em razão das compras para os filhos.

    Mais do que proporcionar bem-estar e alegria, os pais precisam guiar as crianças quanto a valores financeiros. Se no dia a dia elas percebem que podem ganhar presentes sempre que querem, terão dificuldades para lidar com limites. Mais além, se os pais se endividam sem peso na consciência com o uso do cartão de crédito, desde cedo elas estão assimilando que aquele dinheiro de plástico funciona como uma extensão da renda.

    Enquanto os pequenos estiverem fazendo essa ponte, continuaremos construindo uma cultura em que o cartão de crédito é o principal motivo de endividamento das pessoas. O fato é assustador, tendo em vista que a modalidade pratica os juros mais caros do mercado, chegando a 400% ao ano.

    Não encher as crianças de presentes não é descaso com elas, muito pelo contrário. O estímulo constante ao consumismo coloca em nossos inconscientes que medimos amor por alguém com base na quantidade de bens materiais que fornecemos a ela. Isso não é verdade.

    Aproveite o Dia das Crianças e proponha algo diferente para seus filhos. Procure uma feira de troca de brinquedos para que eles participem. Cada criança leva um brinquedo em bom estado que não usa mais e troca pelo item de outra criança.

    Além da interação promovida nesses eventos, todo mundo volta para casa com brinquedos novos e valorizando o ato da partilha. Sem contar que essa é uma forma de prolongar a vida útil dos produtos, ou seja, um estímulo ao consumo consciente.

    O maior bem que você tem a dar a seus filhos não está dentro de um embrulho bonito. Educação financeira é um presente muito mais valioso e duradouro.

    caro dinheiro

    Escreveu até novembro de 2015

    por samy dana

    Ph.D em Business, doutorado em administração, mestrado e bacharelado em economia. É professor na Escola de Administração de Empresas de São Paulo da FGV.

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