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    Caro Dinheiro - Samy Dana

    Uma história plausível e coerente pode ser armadilha para enganar você

    03/10/2015 02h00

    O que é necessário para que uma ideia convença você? Ter coerência já é suficiente para conquistar a sua credibilidade? Histórias coerentes podem ser muito convincentes, mas isso não significa que elas são mais prováveis de acontecer. O grande problema é que, muitas vezes, nós tendemos a confundir as duas coisas.

    Para verificar como isso acontece, o especialista em psicologia econômica Daniel Kahneman realizou um experimento apresentando uma mulher fictícia, chamada Linda. Em sua descrição, ela teria 31 anos e seria solteira, franca e inteligente. Formada em filosofia, sempre se preocupou com questões de discriminação e justiça social quando era estudante. Costumava também participar de manifestações antinucleares.

    Com base na descrição, ele apresenta uma série de possibilidades quanto à profissão de Linda. Entre elas estão: caixa de banco e caixa de banco feminista. A maioria dos participantes do experimento apostou na classificação de caixa de banco feminista, considerando a descrição da personagem.

    O intrigante, no entanto, é que a opção mais escolhida, na verdade, é uma subcategoria da outra alternativa. Todas as caixas de banco feministas estão dentro do grupo de caixas de banco. Ou seja, a probabilidade de que Linda seja uma caixa de banco feminista com certeza é menor do que ser somente caixa de banco.

    Apesar de o forte argumento matemático para nortear a decisão, a tomada de decisão se dá com mais veemência quando as pessoas consideram a descrição. Uma história plausível acaba tendo mais credibilidade do que uma história com maior probabilidade de acontecer.

    Quer ver um outro exemplo apresentado pelo especialista? Pense em dois cenários trágicos: uma inundação em algum lugar da América do Norte que provoca a morte de milhares de pessoas ou um terremoto na Califórnia que provoca uma inundação e mata milhares de pessoas. O cenário da Califórnia tem maior riqueza de detalhes, mas tem menor probabilidade de acontecer que o primeiro.

    No cotidiano, essa artimanha pode ser usada para confundir. Um empresário em busca de um investidor pode apresentar um plano de negócios rico em detalhes, os quais são utilizados para mostrar que a atividade é coerente. A riqueza de detalhes para apontá-lo como uma atividade plausível naquele momento pode ser suficiente para convencer você, mas isso não significa que o investimento tenha grande probabilidade de dar certo.

    Ações de marketing podem ser estrategicamente desenhadas para produzirem o mesmo efeito. Você entra no banco e recebe um encarte falando de uma aplicação, com uma série de benefícios listados, sem contar no papo do gerente para convencer-lhe a acreditar que aquela é uma boa aplicação. A condução dos argumentos é feita de modo a indicar que o investimento é coerente e plausível, mas esses elementos não são suficientes para mostrar que aquela é a aplicação com maior probabilidade de trazer melhores rendimentos.

    Em nossas mentes, lógica e plausibilidade parecem andar juntas, mas na verdade as duas coisas podem seguir caminhos completamente distintos.

    Post feito em parceria com Karina Alves, editora do site Finanças Femininas

    caro dinheiro

    Escreveu até novembro de 2015

    por samy dana

    Ph.D em Business, doutorado em administração, mestrado e bacharelado em economia. É professor na Escola de Administração de Empresas de São Paulo da FGV.

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