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    Caro Dinheiro - Samy Dana

    Não use presentes caros para demonstrar amor pelos filhos

    10/10/2015 02h00

    Existe uma cena que certamente acontece com frequência em muitas famílias: é tarde da noite, a criança precisa dormir para estar bem disposta na escola no dia seguinte, mas se esforça para ficar acordada e ver os pais chegando do trabalho. A falta de tempo é um fator que gera culpa em quem trabalha demais, por mais que a intenção seja garantir melhores condições financeiras aos filhos.

    Como forma de compensar a ausência, há quem opte por dar aos filhos os melhores presentes, os melhores passeios, enfim, tudo aquilo que o dinheiro é capaz de comprar. A atitude é mal vista, mas muitos daqueles que até mesmo condenam esse tipo de compensação podem acabar adotando o comportamento em algum contexto da vida.

    O hábito certamente não acontece por má intenção dos pais, muito pelo contrário. De certo modo, inconscientemente podemos adotar esse tipo de conduta porque é o que fazemos conosco. Depois de comemorar uma promoção, você resolve presentear a si mesmo com um carro melhor.

    Teve um dia cheio de problemas no escritório? As vitrines em liquidação muitas vezes servem como válvula de escape para aliviar a frustração. Seguindo a mesma linha de raciocínio, os presentes acabam sendo usados como forma de mostrar aos filhos que você tem amor por eles.

    A questão é que, por mais que esse tipo de atitude seja baseada na melhor das intenções, existem efeitos colaterais. Se a criança se acostuma a associar bens materiais como prova de amor, corre o risco de criar uma relação distorcida entre sentimentos e posses.

    Um dos possíveis efeitos contrários desse tipo de atitude é criar adulto com postura arrogante, que acredita que o dinheiro pode comprar qualquer coisa. Se foi isso que ele recebeu em casa quando criança, não verá problema em reproduzir o mesmo comportamento em sociedade.

    Além disso, existe ainda outro grande risco que pode afetar a relação pais e filhos: as chances de a criança enxergar pai e mãe somente como provedores materiais. Se a família passa por uma crise financeira e os presentes caros não aparecem mais com frequência, isso pode gerar uma frustração, afinal aqueles bens materiais vinham sendo utilizados como forma de demonstrar afeto.

    Ainda que você queira dar um brinquedo legal no Dia da Criança ou fazer aquela viagem incrível nas férias, seu filho precisa saber que isso não tem nada a ver com o tamanho do amor que você tem por ele. Em vez de chegar ao escritório mais cedo para adiantar seus emails, tente levá-lo à escola mais vezes e aproveite o caminho para conversar, saber da vida dele.

    Inclua atividades na rotina que ele também participe, como a prática de exercícios juntos. Acompanhe as notas escolares, dê conselhos sobre as primeiras paqueras, encontre formas de realmente participar da vida dele.

    Não há como escapar do clichê: não tem dinheiro que substitua a sua presença. E a questão não é ter todo o tempo do mundo ou apenas algumas horas por semana, é a qualidade do tempo compartilhado com as crianças. É desta forma que elas terão certeza do seu amor, independentemente de ganharem um par de meias no Dia da Criança ou um passeio para a Disney.

    caro dinheiro

    Escreveu até novembro de 2015

    por samy dana

    Ph.D em Business, doutorado em administração, mestrado e bacharelado em economia. É professor na Escola de Administração de Empresas de São Paulo da FGV.

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