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    Caro Dinheiro - Samy Dana

    Nobel de Economia pode transformar a forma como enxergamos riqueza

    16/10/2015 02h00

    No começo desta semana, o economista Angus Deaton atingiu outro patamar na carreira. A honraria do prêmio Nobel de Economia vem como reconhecimento de um trabalho que tende a revolucionar a sociedade. Muito mais do que desenvolver um estudo que seja motivo de orgulho para ele próprio e para a comunidade acadêmica, a linha de estudo de Deaton pode ajudar a construir políticas econômicas que beneficiem populações inteiras.

    O economista foi premiado por desenvolver estudos sobre como decisões individuais de consumo são fundamentais para entender e definir políticas econômicas que promovam bem-estar e reduzam a pobreza. Com doutorado em Cambridge, ele finalizou em 2013 um mapeamento das origens da desigualdade em mais de dois séculos anos de história.

    O júri da Academia Real das Ciências da Suécia —instituição que define o ganhador o prêmio— destacou que ele mereceu o Nobel por trazer transformações para a microeconomia, macroeconomia e economia de desenvolvimento.

    De modo geral, a sociedade nos estimula a pensar que o papel de um bom economista é entender e construir políticas que sejam capazes de gerar riqueza. Deaton, por outro lado, propõe um novo modo de enquadrar assuntos determinantes para o meio social.

    Em parceria com o também economista Daniel Kahneman, ele desenvolveu um estudo mostrando que o máximo de dinheiro que uma pessoa precisa produzir por ano para garantir uma vida feliz são US$ 75 mil. Acima disso, o dinheiro não faz mais diferença. A tese dos dois contraria o senso comum e a busca desenfreada para acumular cada vez mais bens materiais, na ilusão de que esse seja o remédio para a felicidade.

    Um de seus estudos também demonstra como a demanda por uma mercadoria depende da renda de quem consome e dos preços de todos os bens e serviços. Isso foi uma ferramenta fundamental para entender como a mudança de uma política fiscal pode afetar profundamente o bem-estar da população.

    Contribuições como essa permitem que mudanças econômicas sejam feitas buscando o bem-estar social e a diminuição da desigualdade como prioridade, não somente o acúmulo de riquezas de determinado país. Da forma como o mundo se organiza hoje, os países em desenvolvimento ganham destaque por suas riquezas, PIBs elevados e relevância no cenário internacional, mas isso não necessariamente vem acompanhado de desenvolvimento social.

    No Brasil, isso sempre foi um grande paradoxo. Vivemos em um país repleto de riquezas, mas ainda não conseguimos realmente aplacar as fortes desigualdades sociais. A China surpreende a todos com seu poder de fogo em produções industriais e crescimento constante, mas luta a todo custo para esconder do mundo a realidade social de grande parte da população do país, que vive em situação de extrema pobreza e lida com trabalho escravo.

    A premiação de um estudioso que dedicou a vida para entender a economia em conexão com o bem-estar social é muito mais do que um prestígio para o próprio autor. Através do trabalho dele, o mundo inteiro tem a ganhar e encarar a palavra riqueza com outros olhos.

    caro dinheiro

    Escreveu até novembro de 2015

    por samy dana

    Ph.D em Business, doutorado em administração, mestrado e bacharelado em economia. É professor na Escola de Administração de Empresas de São Paulo da FGV.

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