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    Caro Dinheiro - Samy Dana

    Mundo Econômico

    20/10/2015 10h27

    PANORAMA MUNDO

    Diante das expectativas do resultado do terceiro trimestre do PIB (Produto Interno Bruto) da China, a precisão dos dados oficiais da economia do país foi contestada. Enquanto parte do mercado financeiro e jornalistas especulam que a economia chinesa está pior do que os números oficiais demonstram, pesquisas apontaram na direção inversa: a economia do gigante asiático é maior do que os dados oficiais sugerem.

    Relatório da instituição de pesquisa CSIS, divulgado no mês passado, mostrou que o PIB chinês de 2013 foi US$ 10,5 trilhões, em vez dos US$ 9,5 trilhões apontados pelos dados oficiais.

    O principal motivo para a divergência entre dados oficiais e a economia real é o sistema contábil usado pela China para medir o PIB. O método atual cobre menos o setor de serviços, que, segundo economistas, desde 2009 contribui mais para o PIB do que o setor industrial. O gráfico abaixo mostra a tendência da economia chinesa, de orientação manufatureira para uma economia de serviços.

    Bloomberg
    Economia chinesa
    Economia chinesa

    Com a economia maior, o nível de endividamento chinês em relação ao PIB parece menos assustador e a produtividade se mostra melhor. Mesmo com o tom positivo da notícia, dados econômicos não confiáveis são preocupantes, pois alimentam o ciclo de políticas ineficazes, seguidas por pânico nos mercados financeiros e maiores danos à economia.

    Apesar do forte impacto nas expectativas dos investidores, a desaceleração da economia chinesa não é surpresa. Como mostrado pelo FMI (Fundo Monetário Internacional), a taxa de crescimento da China vem desacelerando desde 2010 —de 10,6% para uma projeção de 6,8% em 2015. O desaquecimento econômico era esperado, visto que o modelo tradicional de crescimento chinês se aproxima dos limites estrutural e ambiental.

    Em um discurso para líderes provinciais, o primeiro-ministro e chefe do governo, Li Keqiang, destacou que a China precisa de reformas estruturais e tecnológicas, em uma transição de métodos tradicionais de crescimento para métodos inovadores.

    A necessidade de reformas pró-mercado mais profundas tem sido evidenciada pela ineficiência das estatais chinesas em relação às empresas privadas. Desafios enfrentados pela China incluem a consolidação de uma economia de mercado baseada no consumidor e reformas no sistema financeiro.

    O relatório do banco central chinês divulgado em 7 de outubro apresentou reservas melhores que as esperadas, evidenciando a redução da fuga de capitais. Além disso, a recente estabilização do yuan sugere que a política de transição para taxa de câmbio baseada no mercado tem sido bem executada e, com isso, espera-se que a China evite o colapso financeiro anunciado pela 'Black Monday' —quando, em 24 de agosto, a Bolsa de Xangai caiu 8,5%.

    PANORAMA BRASIL

    O acordo concluído em 5 de outubro entre Estados Unidos, Japão e outros dez países, a Parceria Transpacífico (TPP), terá fortes impactos na economia do Brasil e dos demais emergentes. O tratado reduzirá barreiras comerciais entre os membros, que, em conjunto, são responsáveis por 40% da economia mundial e possuem um mercado consumidor de 800 milhões de pessoas.

    Segundo especialistas, o tratado serve de alerta para o Brasil, apontando para a necessidade de maior integração do país na economia mundial. Com o TPP, o esforço brasileiro no desenvolvimento de negociações multilaterais na OMC (Organização Mundial do Comércio) mostra-se inválido, pois, com a nova realidade comercial estabelecida pelas regras do acordo, o Brasil perde poder de negociação, assumindo posição passiva nas negociações de regras comerciais internacionais.

    Além disso, como os membros do acordo trocarão mercadorias sem taxação de impostos, os produtos brasileiros perderão competitividade em mercados importantes. O Brasil exportou, no ano passado, US$ 54 bilhões para os 12 países envolvidos no tratado —aproximadamente 25% do valor total de exportações— e importou US$ 60 bilhões.

    Um estudo do Centro de Comércio Global e Investimento da FGV (Fundação Getulio Vargas) mostra que o impacto do tratado na indústria brasileira será relevante: oito dos 16 setores industriais de transformação sofrerão perdas no PIB. O setor de veículos e partes deve ter perda de 1%, enquanto o setor de equipamentos e transportes deve perder 3%.

    A Parceria Transpacífico deve enfraquecer a OMC, e a União Europeia deve acelerar a negociação com os EUA para a conclusão da Parceria Transatlântica (TTIP). A parceria entre americanos e europeus pode reduzir em 5% as exportações brasileiras para os EUA e UE.

    Os emergentes que estão fora das negociações terão que se adaptar aos padrões estabelecidos pelo acordo. Em especial, a TPP fortalece os Estados Unidos, ao contrabalancear a influência chinesa sobre o comércio no Pacífico. O tratado ainda deve ser votado pelo Congresso dos EUA, e deve estar ratificado no início de 2016.

    Por um lado, espera-se que, com o aquecimento das três economias latino-americanas participantes do tratado —México, Chile e Peru—, alguns setores específicos da economia brasileira sejam favorecidos pela maior demanda, como equipamentos eletrônicos, que teriam alta de 0,91% no PIB.

    Por outro lado, o país perderá mercados na América Latina, o que pode forçar o Brasil e demais integrantes do Mercosul a flexibilizarem suas regras, permitindo que membros aumentem laços com os vizinhos que não pertençam ao bloco.

    De acordo com economistas, a Parceria Transpacífico é um sinal de maior liberalização do comércio mundial. Seguindo esse raciocínio, ferramentas para lidar com a crise brasileira incluem maior abertura econômica e uma postura que permita maior inserção nas negociações dos grandes acordos internacionais.

    Post em parceria com Yan Kaled Barbosa, graduando em administração pela Fundação Getulio Vargas e trainee pela Consultoria Júnior de Economia

    caro dinheiro

    Escreveu até novembro de 2015

    por samy dana

    Ph.D em Business, doutorado em administração, mestrado e bacharelado em economia. É professor na Escola de Administração de Empresas de São Paulo da FGV.

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