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    Caro Dinheiro - Samy Dana

    O que leva você a comprar um carro ou celular novo?

    23/10/2015 02h00

    Quando você tem a intenção de trocar o carro, celular ou qualquer outro aparelho eletrônico, qual é o principal motivo desse gasto extra? Há quem justifique pelo visor quebrado e corre para a loja da operadora para levar um aparelho novo, sem sequer pesquisar quanto custaria consertar o atual.

    No caso do carro, é muito comum ouvir a justificativa de que a troca acontece com frequência para evitar desvalorização do veículo, mas a pessoa não considera o quanto precisa desembolsar para saltar do modelo que possui na garagem para uma versão com novo design.

    No fim das contas, essa ideia de valorização é um pouco ilusória. A pessoa convence a si mesma de que está fazendo um bom negócio adquirindo um produto novo, seja um celular, um computador ou um carro, por exemplo.

    Mas, para isso, é necessário investir um pouco mais e, no ano seguinte, novamente surge um modelo novo que vai servir de estímulo para mais uma troca. Sendo assim, o consumidor está sempre pagando parcelas, nunca quita o produto de desejo e continua "preso" a essa justificativa de desvalorização.

    Na verdade, qual foi a última vez que você viu alguém vendendo um carro usado por um valor mais alto que a versão mais nova do mesmo modelo? Ou alguém que lucrou tanto com a venda de um iPhone 5S que conseguiu pagar pelo iPhone 6 e ainda sobrar dinheiro (considerando os preços do produto no Brasil)?

    De modo geral, a nossa cultura já incentiva constantemente o consumo impulsivo e o imediatismo. Se isso não fosse verdade, as pessoas não fariam fila em portas de lojas para conferirem novos produtos. Aproveitando essa onda, as montadoras, concessionárias e operadoras de celular se esforçam para criar iscas que reforcem no consumidor a ideia de que a compra é um bom negócio.

    As operadoras oferecem planos que estendem o número de minutos (ainda que você não precise deles) na compra de um aparelho novo, as concessionárias e montadoras divulgam propagandas com parcelas que parecem caber no bolso, mas todos os encargos não são revelados no anúncio.

    O ponto em questão é que, para continuar neste ciclo vicioso de consumo, basta criar uma justificativa para embasar suas decisões e o mercado se encarregará de reforçar essas explicações rasas.

    Salvas algumas exceções —em que um modelo de celular novo possa ajudar no dia a dia profissional, por exemplo—, você acha que realmente precisa se comprometer com parcelas altíssimas somente para ter uma tela com maior resolução, alguma melhoria no processador e na câmera do aparelho? Vale a pena gastar mais dinheiro com financiamento de carro para bancar uma reestilização?

    Se o que você possui está em perfeitas condições, pergunte a si mesmo se realmente há necessidade de fazer um upgrade. Na ponta do lápis, com toda a carga tributária do país, custos de logística e encargos gerais da indústria, além das margens de lucro elevadíssimas do comércio, infelizmente pagamos muito caro para bancar pequenos benefícios. Já passa da hora de levar isso em consideração antes de fechar uma nova compra.

    caro dinheiro

    Escreveu até novembro de 2015

    por samy dana

    Ph.D em Business, doutorado em administração, mestrado e bacharelado em economia. É professor na Escola de Administração de Empresas de São Paulo da FGV.

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