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    Celso Rocha de Barros

    O governo de 2016

    14/12/2015 02h00

    No ano que vem o Brasil terá um novo governo: ou um novo governo Dilma, ou um governo Temer. O que é possível esperar do novo governo? Ninguém aposta em grandes viradas. Dilma já está aí e o PMDB no poder não chega a ser uma Primavera de Praga. Mas algumas mudanças podem começar.

    Se for possível prever 2016 extrapolando as tendências de 2015 (talvez não seja), o novo governo terá dois traços principais: será um governo mais liberal, e terá mais espaço para partidos que vinham sendo coadjuvantes de PT e PSDB.

    A adesão ao liberalismo será, em parte, uma imposição da realidade: o dinheiro acabou, e o reequilíbrio das contas públicas é urgente. Mas também é verdade que os liberais venceram a batalha das ideias em 2015. Desde a nomeação de Levy, passando pelos manifestos "O Ajuste Inevitável" e "Uma Ponte para o Futuro", houve uma elevação do teor de liberalismo econômico no debate brasileiro. Em grande parte porque os manifestos de esquerda, como o da Fundação Perseu Abramo, pediam para gastar dinheiro que não existe mais.

    Nada disso quer dizer que os liberais mais entusiasmados terão razão para se entusiasmar. Acho provável que se inicie a reforma da Previdência e que se discuta alguma abertura comercial. Mais do que isso exigiria bem mais em termos de conquista da opinião pública e de conciliação de interesses. Além disso, se a crise política continuar derrubando a economia, é pouco provável que as massas furiosas ocupem as ruas pedindo mais flexibilização das leis trabalhistas.

    Na política, se 2016 for parecido com 2015, partidos nem-PT-nem-PSDB ganharão maior destaque. O novo governo terá menos cara de governo paulista (ou PT ou PSDB) e mais cara de governo Sérgio Cabral.

    Se Dilma sobreviver ao impeachment, terá sido por ter finalmente aceitado compartilhar o poder com os aliados de centro-direita do PT. Isso inclui o PMDB que lhe for (vez ou outra) fiel, e os mini-PMDBs deste mundo, como o PSD. Se Temer for presidente, o PMDB assume a hegemonia da centro-direita, e o PSDB passa a ser seu coadjuvante, ao menos no curto prazo.

    Além das tendências de 2015 que devem continuar, é possível fazer apostas razoáveis sobre algumas coisas que devem mudar.

    Nesse ano que Eduardo Cunha não deixa acabar, a política foi política entre elites, de intrigas palacianas, porque entrou em pauta uma transferência de poder sem eleição. Em consequência, a política social, que serve para conquistar eleitores pobres, desapareceu da conversa. O resultado da PNAD, por exemplo, foi recebido com total desinteresse na discussão nacional.

    Em 2016 teremos eleições para prefeito, e a eleição de 2018 já começará a ser discutida com mais seriedade. Eleição é quando políticos e analistas voltam a prestar atenção nos pobres. Deve voltar, portanto, a discussão sobre políticas sociais.

    Mas, é claro, há outras tendências que podem prevalecer sobre essas todas. A batalha do impeachment pode levar a uma radicalização generalizada, que seria catastrófica. O filósofo Marcos Nobre detectou na política brasileira uma tendência à conciliação característica do que chamou de "pemedebismo". Em 2016 veremos, enfim, se o pemedebismo continuará funcionando quando é o PMDB indo para a guerra.

    celso rocha de barros

    É doutor em sociologia pela Universidade de Oxford, com tese sobre as desigualdades sociais após o colapso de regimes socialistas no Leste Europeu. Escreve às segundas.

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