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    Celso Rocha de Barros

    Novas eleições

    29/02/2016 02h00

    A prisão do publicitário João Santana parece ter dado alento à estratégia de cassar a chapa Dilma/Temer no TSE. A consultoria Eurasia, que tem analistas muito competentes, avalia que a probabilidade de cassação da chapa aumentou para 20%. Não tenho expertise na dinâmica interna do TSE, mas parece razoável. Mesmo ainda não sendo o cenário mais provável, vale perguntar: o que poderíamos esperar de uma nova eleição?

    A Eurasia tem boas expectativas para esse cenário. Ao contrário de um governo Temer, um novo presidente eleito diretamente teria legitimidade para realizar as reformas que, na opinião da consultoria (e, até certo ponto, na minha), ajudariam o Brasil a iniciar um novo ciclo de crescimento. Afinal, PSDB, PMDB e parte do PT já teriam aceito que as reformas são necessárias. A Eurasia vê como favorita para o novo pleito a candidata Marina Silva.

    Entendo o raciocínio, e acho que Marina vem forte na próxima eleição (seja quando for). Mas acho que a análise da Eurasia supõe uma continuidade muito grande entre a discussão política de 2015 e a que aconteceria em nova campanha eleitoral.

    A discussão atual é o resultado de um ano em que a disputa pelo poder não envolveu eleições. Foi uma discussão inteiramente entre elites, econômicas e políticas. O PMDB apresentou "Uma Ponte para o Futuro" para convencer a elite econômica de que um governo Temer seria seguro; o PMDB nunca concorreu em eleições com programa remotamente semelhante. Houve analistas liberais que estranharam que o PSDB nunca tivesse apresentado propostas tão claramente liberais, e mesmo Fernando Henrique Cardoso achou a "Ponte" liberal demais. A diferença entre o PSDB e o PMDB de 2015, naturalmente, é que o PSDB depende de eleições para chegar ao poder –e as reformas são impopulares.

    Notem, a propósito, que em ano de eleição para prefeito, o PMDB já anuncia um "Plano Temer 2" com foco em políticas sociais. O PMDB apoiaria políticas liberais implementadas por um governo que não apenas não seria seu, mas seria da turma que impugnou Temer?

    Por outro lado, se o PT reluta em apoiar as reformas sendo governo (e precisando, portanto, colocar as contas em ordem de qualquer maneira), a chance de apoiá-las sendo oposição são modestas. Militantes que assistissem a Presidência sendo passada temporariamente a Eduardo Cunha dificilmente reagiriam dizendo "certo, agora vamos discutir um limite para os gastos públicos". É de se pensar, inclusive, o quanto do gestual atual do PT não é baseado na expectativa de novas eleições, ou de voltar para a oposição em caso de impeachment.

    Enfim, uma nova eleição aconteceria em meio a um ajuste impopular e necessário. Candidatos que defendessem reformas impopulares e necessárias sairiam em vantagem?

    Talvez sim, se a campanha transcorresse em um clima de apatia, favorecida pela desorganização da esquerda após a crise do PT. Se nenhum novo ator relevante conseguisse o dinheiro de campanha e os apoios partidários necessários para ser competitivo, talvez tudo fosse decidido no recall dos nomes da eleição passada.

    Mas uma brecha estaria aberta para candidatos antiajuste. Talvez as forças vitoriosas contra Dilma conseguissem fechá-la. Ou talvez estejam superestimando o quanto a impopularidade das reformas depende da propaganda petista.

    celso rocha de barros

    É doutor em sociologia pela Universidade de Oxford, com tese sobre as desigualdades sociais após o colapso de regimes socialistas no Leste Europeu. Escreve às segundas.

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