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    Celso Rocha de Barros

    Dilma entre os carros de fuga

    14/03/2016 02h00

    Aumentou consideravelmente a chance de Dilma Rousseff sofrer o impeachment. Não pela passeata deste domingo, que ainda não ocorrera quando esta coluna foi entregue. Mas porque Dilma está na encruzilhada de várias rotas de fuga.

    O surgimento de nomes da oposição e a constante repetição de nomes do PMDB nas delações poderiam, em tese, ter melhorado a situação de Dilma. Em 2015, o entusiasmo pelo impeachment arrefeceu muito quando a população se informou sobre as alternativas à presidente.

    Aconteceu o contrário: quando a sirene da polícia tocou, aumentou a disposição do establishment político de entregar Dilma, Lula e o PT à opinião pública e torcer para que isso arrefeça o ânimo investigativo. Daí em diante as negociações transcorreriam sem a pressão da opinião pública.

    Não é bonito, mas acho que vai dar certo.

    Afinal, para se livrarem da cadeia, basta aos empreiteiros entregarem os petistas. De volta às suas casas, tentarão voltar aos negócios de sempre. E já lhes é mais ou menos claro quem têm chance de voltar a ser governo. Esses não serão delatados. Nossa "Mãos Limpas" será maneta.

    Lembremos que, até poucas semanas atrás, o impeachment parecia muito improvável, justamente porque um acordo entre PMDB e PSDB parecia distante. Cada um tinha seu projeto para 2018. Nenhum dos dois queria pagar o custo de popularidade do ajuste econômico sem o outro. Mas as diferenças se tornaram secundárias quando aumentou a urgência de encerrar o assunto.

    Não faz o menor sentido o argumento de que o impeachment ganhou força devido às novas denúncias. A delação da Andrade Gutierrez, que aumenta as chances da chapa Dilma/Temer ser cassada, fez com que os tucanos se aproximassem dos pemedebistas? Qual seria o plano? Derrubar Dilma no Congresso e logo depois derrubar Temer nos tribunais? O PMDB concordaria? Lembremos que a ação no TSE foi proposta pelo próprio PSDB.

    É muito mais provável que apostem que conseguirão convencer o TSE (como?) a livrar Temer, a essa altura já empossado como presidente. Se o TSE o fizer, a propósito, terá absolvido Dilma da única acusação sólida contra ela até agora. Mas a terá absolvido depois de impedida. A esperança é que ninguém mais esteja prestando atenção.

    Além disso, a prisão de Lula tem cara de coisa grande o suficiente para parecer o ápice das investigações do petrolão, a prisão do Poderoso Chefão, o encerramento da história. Mas essa história não se sustenta com as evidências disponíveis. Lula provavelmente fazia lobby para as empreiteiras, e, se for o caso, deve ser legalmente responsabilizado. Mas o esquema era das empreiteiras. Pintar a prisão de Lula como o ápice das investigações do petrolão é acobertar muitas, muitas fugas.

    E, finalmente: desconfiem de petistas menores insistindo na radicalização da política econômica. A maioria ali está sinceramente errada (como, na minha opinião, estão os manifestantes de ontem). Mas não estranharia se também houvesse uma rapaziada que aceita que o governo caia e que a crise se aprofunde para fugir na confusão.

    Enfim, aumentou a chance de Dilma ser atropelada por um dos vários carros de fuga em disparada por Brasília.

    celso rocha de barros

    É doutor em sociologia pela Universidade de Oxford, com tese sobre as desigualdades sociais após o colapso de regimes socialistas no Leste Europeu. Escreve às segundas.

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