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    Celso Rocha de Barros

    Presidente Temer

    18/04/2016 04h31

    Para todos os propósitos práticos, Michel Temer é o novo presidente do Brasil. Ninguém acha que o Senado vai reverter a decisão da Câmara. Só não é possível dizer com certeza que Temer governa até 2018 porque (a) a Lava Jato deve atingir o núcleo dirigente do PMDB (se não for interrompida), (b) a esquerda deve fazer uma oposição bastante animada, (c) podemos nos tornar uma colônia do Suriname, e (d) Gilmar Mendes pode levar a sério o processo de cassação da chapa Dilma/Temer no TSE. As opções foram listadas em ordem decrescente de probabilidade.

    Temer foi eleito com Dilma, de modo que não se trata propriamente de um golpe. A questão é um pouco complexa. Aparentemente, Temer sustenta que era vice o suficiente de Dilma para substituí-la em caso de impedimento, mas não era vice o suficiente para ser cassado com ela no TSE. Parece confuso, mas, se não confiarmos no PMDB para interpretar corretamente nossas leis, confiaremos em quem?

    Temer foi conduzido ao poder com um programa liberal, o manifesto "Uma Ponte para o Futuro". Não disse "eleito" porque eleito ele foi com o programa de Dilma, que dizia que nenhum ajuste era necessário. Temer sempre foi próximo de Paulo Skaf, o maníaco do pato, que no começo gostava de várias ideias da "Nova Matriz Econômica".

    Mas, no final do ano passado, em um esforço de conquistar a elite econômica para o impeachment, Temer se tornou um neoliberal ("neo" no sentido de "cristão novo"). Podemos esperar que aplique esse programa consistentemente?

    Um amigo meu, liberal carioca com seus quarenta e poucos anos, duvida. Afinal, diz, ele, as fontes sugerem que "Uma Ponte para o Futuro" foi organizado por Moreira Franco, futuro ministro de alguma coisa com grande orçamento. Moreira Franco se elegeu governador do Rio de Janeiro em 1986 prometendo acabar com a violência no estado em cem dias. Se sua taxa de performance se mantiver no mesmo nível, diz meu amigo, seu esforço de implementar o liberalismo no Brasil pode nos transformar na Coreia do Norte.

    Eu discordo; acho que Temer precisa pelo menos tentar implementar o programa negociado com a elite econômica. Temer é uma presa muito mais frágil que Dilma: está muito mais próximo de gente no centro do alvo da Lava Jato. Se Temer desagradar a elite, derrubá-lo será questão de dias. Ninguém vai cantar "Não vai ter golpe", nenhum artista irá defendê-lo. O PSDB só não o abandonaria mais rápido do que o próprio PMDB. Se Temer não entregar, as capas de revista voltarão, o pato será inflado novamente, e novos grupos de jovens serão formados no Facebook. Marina está ali no banco querendo entrar.

    Já disse aqui que acho uma pena que essas reformas sejam implementadas no Brasil por uma manobra parlamentar, não em uma grande repactuação nacional. O liberalismo pode ficar ligado às oligarquias do PMDB como antes Roberto Campos era indissociável da ditadura. Isso seria ruim. Mas, enfim, cada um joga com as cartas que tem.

    Por fim, um governo Temer promete nos brindar com um espetáculo sublime, o PMDB indo ao Congresso pedindo que a base de apoio lhe seja fiel. Minha sugestão é que no dia coloquemos Collor, FHC, Lula e Dilma na tribuna, comendo pipoca e morrendo de rir.

    celso rocha de barros

    É doutor em sociologia pela Universidade de Oxford, com tese sobre as desigualdades sociais após o colapso de regimes socialistas no Leste Europeu. Escreve às segundas.

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