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    Celso Rocha de Barros

    Paes será único político que fez algo direito em 2016 se Jogos correrem bem

    25/07/2016 02h00

    Chegamos no ponto de 2016 em que deveríamos estar escrevendo o seguinte:

    "A Olimpíada será o grande teste para o prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes. Se os Jogos Olímpicos forem um sucesso, Paes estará automaticamente qualificado para alimentar ambições presidenciais. O PMDB precisa de um candidato, e não dispõe de um quadro melhor que o prefeito carioca. Há muito o que criticar em sua gestão, mas é inegável que deixará um legado na reconstrução urbanística do centro do Rio de Janeiro e na reformulação de seu plano de mobilidade urbana. Dentro de poucas semanas, portanto, saberemos se o país tem um novo presidenciável."

    Mesmo agora, não chega a ser absurdo dizer nada disso. Ao contrário do que muita gente vem dizendo, até agora não há sinais de que a Olimpíada será um desastre. Há menos relatos de atrasos nas obras do que na Copa de 2014. A cidade mudou em aspectos importantes. A Olimpíada acontecerá em meio a diversos desastres nacionais e internacionais, mas não há por que acreditar que serão, elas mesmas, um desastre. E o quadro político é instável: não é possível descartar de saída nenhum nome para 2018.

    Entretanto, mesmo supondo que daqui a um mês a autoestima nacional tenha recebido um bem-vindo reforço pela experiência de jogos razoavelmente organizados, ninguém arrisca apostar que isso automaticamente lançará Paes na disputa presidencial.

    Eduardo Paes é do PMDB. Há muita expectativa de que o PMDB fluminense será pesadamente atingido pela Lava Jato. Paes sairá ileso?

    Se for atingido em cheio, deixa de ser presidenciável. Se não for, Paes será exibido no Museu do Amanhã na mostra "O Cara do PMDB que não estava metido naquela picaretagem toda". Quando a mostra for desmontada após grande sucesso de público, Paes poderá voltar a pensar na Presidência.

    Mas não foi só o contágio do PMDB que diminuiu as chances do prefeito. A versão 2016 de Eduardo Paes parece ter vindo sem os adicionais de habilidade política que tanto atraíram o público em versões anteriores.

    Paes em 2016 cometeu uma série de erros inteiramente não forçados. O primeiro foi a conversa com Lula gravada pela Lava Jato. Entre os áudios vazados em 2016, deve ser um dos que continham menos indícios de atividade criminosa. Entretanto, além de ter cometido crime de lesa-Maricá, Paes demonstrou completa incompreensão do momento político: pelo que se ouviu na gravação, achou que a política continuava funcionando mais ou menos normalmente, e que era possível conversar sobre ela nos termos de sempre. Não era.

    Mas esse erro empalidece diante da inexplicável escolha de Pedro Paulo, que batia na esposa, como seu sucessor. Para escolher um candidato menos simpático do que o secretário que bate em mulher, Paes teria que procurar alguém na célula terrorista desbaratada semana passada. Se a Olimpíada for um sucesso, os desafiantes não se mostrarem à altura da tarefa, e a velha máquina pemedebista funcionar, talvez Paes eleja Pedro Paulo. Mas não devia ser tão difícil.

    De qualquer forma, ainda é cedo para descartar Eduardo Paes. Afinal, se a Olimpíada correr mais ou menos bem, ele pode se tornar o único político no Brasil em 2016 que terá conseguido fazer alguma coisa direito. Alguma coisa isso deve valer.

    celso rocha de barros

    É doutor em sociologia pela Universidade de Oxford, com tese sobre as desigualdades sociais após o colapso de regimes socialistas no Leste Europeu. Escreve às segundas.

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