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    Celso Rocha de Barros

    Com morte de Teori, projeções e estratégias terão que ser revistas

    23/01/2017 02h00

    A morte do ministro Teori Zavascki foi uma tragédia para seus entes queridos, para a comunidade jurídica e para o país. Ela também embaralhou todas as expectativas para a política brasileira em 2017. Todos os cálculos, todas as projeções e todas as estratégias terão que ser revistas.

    A previsão era termos um "fevereiro do fim do mundo", com a eleição para presidente da Câmara e a homologação das delações pelo ministro. Supondo que o mundo não acabasse mesmo, poucos meses depois teríamos o julgamento de Temer no TSE, com possíveis desdobramentos no STF em caso de condenação.

    Caso, miraculosamente, nada disso afetasse a gestão macroeconômica, no segundo semestre a economia voltaria a crescer em um ritmo modesto, mas encorajador. No final do ano, os 20 ou 30 brasileiros que ainda não tivessem fugido para a Namíbia a nado disputariam com José Serra para saber quem seria derrotado no primeiro turno em 2018 pelo organismo cibernético para o qual Lula teria transferido sua consciência como forma de driblar a Lei da Ficha Limpa.

    Qual o novo cronograma? Vamos supor um cenário otimista em que o novo relator é um juiz que não desperte grandes paixões partidárias, como o decano Celso de Mello, e que o atraso nas homologações seja de poucos meses.

    Com o atraso nas homologações, voltou a haver tempo hábil para uma autoanistia preventiva dos parlamentares antes das denúncias aparecerem. A eleição para a presidência da Câmara transcorrerá com essa perspectiva reaberta.

    O candidato Jovair Arantes (PTB) já havia sugerido em entrevista à Folha que colocaria a anistia em votação, e o favorito Rodrigo Maia (DEM) presidia a Casa na última tentativa. O assunto deve voltar a ser tema de discussões em Brasília, embora talvez não em público.

    Mas o custo da anistia também aumentou significativamente. Se feita no prazo aberto com a morte de Teori Zavascki, somará à indignidade do acobertamento a ofensa de usar a morte de um juiz do Supremo na fuga. Vale a pena desafiar assim a opinião pública no mesmo semestre em que se aumenta a idade para a aposentadoria?

    Para o sujeito que sabe que será preso sem anistia, vale isso, vale tudo. Mas para quem tem esperança de ser pego só em crimes menores, não vale. E nem todo mundo sabe se será pego pelos crimes grandes ou pelos pequenos.

    Assim, se a anistia voltar à pauta, devemos ver conflitos entre delatados que a Odebrecht vai enterrar até os joelhos, até a cintura ou até o pescoço, e os participantes podem ter que ir para essa luta sem saber exatamente em que time estão.

    O atraso nas homologações também pode mudar a data do julgamento da chapa Dilma/Temer no TSE. As delações podem trazer novas informações relevantes para o julgamento, que precisariam de um prazo para análise.

    Com isso, aumenta a chance do julgamento acontecer com a economia já um pouco menos frágil. Dependendo do quão graves forem as acusações contra Temer e sua turma, e do quão menos frágil estiver a economia, podemos ter dois cenários: em um, o alívio econômico ajuda Temer a se safar no TSE. No outro, as denúncias contra Temer interrompem a recuperação econômica.

    Pelo sim, pelo não, seguem duas dicas: ali no fim da praia de Copacabana tem um pessoal que ensina natação no mar, e a capital da Namíbia é Windhoek.

    celso rocha de barros

    É doutor em sociologia pela Universidade de Oxford, com tese sobre as desigualdades sociais após o colapso de regimes socialistas no Leste Europeu. Escreve às segundas.

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