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    Celso Rocha de Barros

    O companheiro impeachment

    02/10/2017 02h00

    Jorge Araujo/Folhapress
    São Paulo SP Brasil 21 09 2017 PODER O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva , durante lançamento da iniciativa "Brasil Que o Povo Quer" organizada pelo Partido dos Trabalhadores e a Fundação Perseu Abramo no Hotel Jaraguá. .PODER foto Jorge Araujo Folhapress 703 ORG XMIT: GPS: S 23 32.53 W 46 38.37 7
    Ex-presidente Lula participa do lançamento da iniciativa "Brasil Que o Povo Quer"

    Lula tem 35% das preferências na última pesquisa do Datafolha, feita depois da condenação de Moro e do depoimento de Palocci. Vence todos os adversários nas simulações de segundo turno, à exceção do juiz Sergio Moro, com quem está tecnicamente empatado. Moro não deve ser candidato.

    É preciso ter claro o que significa Lula com 35% depois dos últimos três anos. Para a maior parte da população brasileira, o pacote do lulismo —crescimento acelerado da renda dos pobres, estabilidade macroeconômica, aumento de oportunidades educacionais— ainda é o padrão ouro da governança brasileira. O lulismo não será destruído enquanto não for substituído por algo melhor.

    Além disso, as denúncias contra Lula, por mais graves que sejam, acontecem contra o pano de fundo de denúncias contra todos seus adversários. Na semana passada, por exemplo, Aécio Neves, gravado tramando contra a Lava Jato, foi condenado pelo STF a assistir mais Netflix e só jantar delivery.

    Não se preocupem, o Senado deve livrá-lo desse gulag horrendo. E há as malas de Geddel, o porto de Temer, as acusações de que familiares de Romero Jucá teriam desviado, acreditem se quiser, o equivalente a um terço do PIB de Roraima. Não é fácil para os apartamentos de Lula se destacarem neste quadro.

    Enfim, é o preço pago pela direita brasileira por ter se amarrado ao PMDB no processo de impeachment de Dilma Rousseff.

    Além do companheiro impeachment, Lula conta com a ajuda dos companheiros adversários.

    O companheiro Bolsonaro vai agora aos EUA tentar parecer liberal para investidores internacionais. Mas o faz só uma semana depois de ter postado, em uma rede social, contra a reforma da Previdência e a favor da auditoria da dívida pública. E quando Bolsonaro defendeu o general Mourão, serrou o galho em que estava sentado: se seu eleitorado deixar de acreditar em eleições, Bolsonaro vira nanico.

    A companheira Marina Silva, por sua vez, oscila entre o "Quero ser Macron" e a tentativa de ocupar o lugar do PT na liderança da centro-esquerda. Em retrospecto, está claro que a decisão de apoiar o impeachment foi péssima para Marina.

    Se tivesse se concentrado em pedir novas eleições, teria acumulado menos resistências na esquerda derrotada em 2016. E a direita ainda está eufórica demais por ter derrubado Dilma para procurar moderação.

    Os companheiros tucanos ainda não escolheram seu candidato. Em um cenário normal, o companheiro Alckmin seria a opção natural. Mas ainda não sabemos se conseguirá sair ileso da Lava Jato, ou se escapará do contágio dos correligionários. Precisa também disputar a candidatura com o companheiro Doria, que, se me lembro bem, deveria estar administrando um negócio grande que tem ali perto de Guarulhos. Em vez disso, ao que parece, sua próxima tentativa de chamar atenção será deitar pelado no chão de um museu enquanto o MBL o gira de um lado para o outro. E Ciro Gomes ainda não achou brecha por onde entrar no pelotão de frente.

    Apesar dos esforços do companheiro impeachment para eleger Lula, o ex-presidente deve tornar-se inelegível por decisão judicial.

    Mas isso não muda o fato de que os eleitores continuam querendo o pacote lulista. Enquanto os adversários forem incapazes de fornecê-lo, continuarão sendo companheiros.

    celso rocha de barros

    É doutor em sociologia pela Universidade de Oxford, com tese sobre as desigualdades sociais após o colapso de regimes socialistas no Leste Europeu. Escreve às segundas.

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