Fabiano Augusto não morre de amores quando gritam "Quer pagar quanto?!" para ele na rua. O ator de 38 anos é conhecido como a cara das Casas Bahia há sete anos, mas faz muito mais do que comerciais.

Figura comum no teatro, ele agora interpreta Ney Matogrosso em musical sobre a vida de Rita Lee. No palco, canta e requebra como o músico. Ele conta aqui do processo para virar a figura latina.

	Leticia Moreira/ Folhapress
	Fabiano Augusto, o garoto propaganda das Casas Bahia, em sua casa, na Consolação

Como surgiu o papel?
Eu conhecia o diretor há tempos. Ele sabia que eu tinha um registro de voz mais agudo, ainda que não tão agudo quanto o Ney. Daí ele me convidou no final do ano passado para fazer o Ney. Eu disse que não sabia se conseguia. Levei as músicas do Ney para a Leda Gomes, preparadora do Tim Maia, cantei e ela falou "vai fundo". Fui.

Chegou a se encontrar com o Ney Matogrosso?
Fui a um show dele no começo do ano e fui falar com ele no camarim. O encontro foi tenso. A primeira coisa que ele perguntou é "Por que eu estou em tantos musicais? O que eu tenho a ver com a Rita Lee?". Mas depois melhorou, foi engraçado. Ele me disse uma coisa que depois fez bastante sentido: "Você sabe que eu tô vivo, que você não tem licença poética". Eu entendi o que ele quis dizer, é a coisa do respeito. A gente tem que respeitar esse cara de 72 anos que canta há 30, faz iluminação, dirige, canta, dança. Entendi que era um show dentro duma peça.

O que mudou no seu corpo para interpretar Ney?
Perdi sete quilos em dois meses. E eu não precisava. Eu cheguei de Londres barrigudinho, porque enfiei o pé na jaca lá. Os diretores não cobraram, mas eu queria chegar mais perto dele. Entrei numa dieta braba, coitado de quem ficou do meu lado. Fui a uma nutricionista.

Pensou em usar salto alto?
Fui provar bota de salto numa dessas lojas para travesti na rua Augusta. Quando eu falei que ia fazer o Ney, as vendedoras ficaram eriçadas. Desmontaram a loja para eu achar uma bota, e era para ensaiar, nem para o palco. Tem uma simpatia muito grande por ele.

Sabe se o Ney vai ver a peça?
Já sei até o dia que ele vai. Não esse domingo (13), o outro (20). O marido da Mel Lisboa toca com ele, e já confidenciou que muito provavelmente ele vá assistir. E aguenta o nervosismo!

Quais foram as instruções para se tornar o personagem?
Me deram total liberdade mas eu não sabia por onde começar. Como eu vou colocar meu canto no palco, como vou fazer o personagem. Eu não sabia como começar, não chegava no timbre da voz dele. Daí comecei a pensar no Ney como um personagem, como o Hamlet. E comecei a pegar os pontos em comum entre nós dois. Pensei "O que mais me alucina quando eu vejo um show dele?". O Ney tem essa coisa animal muito forte, muito presente. E ele é um cara que está sempre no limite do ridículo, mas nunca é ridículo. É uma coisa animal e forte, mas de macho mesmo. É um homem vestindo uma bota de salto 10 e não é bicha.

E como o público reagiu?
Na primeira vez que eu subi no palco ouvi algumas pessoas dando risada. É tudo que eu menos esperava. Não sei o que me deu, mas virou uma chave em mim e me deu um clique. Virei um animal, e as pessoas pararam.