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    Cidadona

    Professor da USP chama notas de aluno de 'sucateadas' em e-mail

    11/07/2015 03h38

    "Notas sucateadas" era o título de um e-mail do professor que Eduardo de Almeida Navarro, um dos linguistas especializados em tupi mais respeitados do país, com 30 anos de experiência, mandou ao aluno Leandro Gonçalves, 20, no domingo (5).

    No corpo da mensagem, um link que levava para o histórico escolar do estudante. O professor confirmou à sãopaulo ter sido o emissor da mensagem. Disse que a motivação para o e-mail nasceu de uma discussão em sala de aula.

    "Ele chamou minha aula de 'sucateada'. Me humilhou em público. Eu disse: 'Vamos ver se você tem propriedade para dizer isso. Vou ficar de olho nas suas notas.' Se ele ataca, não pode esperar nada em troca."

    Divulgação
    E-mail que professor da USP mandou para aluno, chamando suas notas de 'sucateadas
    E-mail que professor da USP mandou para aluno, chamando suas notas de 'sucateadas'

    O aluno afirma que o adjetivo "sucateada", na verdade, se referia à estrutura física e docente da escola, durante uma discussão sobre a iminência de greve. "O professor falou que a gente entrava em greve sem motivos, eu disse que a matéria dele era uma das sucateadas: não existe lugar para se sentar, já que só tem ele lecionando tupi na USP e em só três horários da matéria básica. As salas são lotadas, quentes, e não têm investimento nenhum. Ele rebateu falando que tinha muitos alunos interessados na aula dele. Nitidamente ele não entendeu o que eu queria dizer com 'sucateamento de disciplinas na USP' por conta da crise."

    Após receber o e-mail, o aluno procurou colegas de curso para se aconselhar se deveria prestar queixa por assédio. "Eu falei que achava a aula dele boa, só que precisávamos, sim, de mais professores já que tinha tantos alunos interessados. Nada que justifique o e-mail."

    Gonçalves respondeu à mensagem com o seguinte texto: "Professor não entendi o e-mail, pode me esclarecer?".

    Na segunda (6), o professor mandaria uma tréplica, que também encaminhou para a Folha. O texto inclui "Aos dezenove anos, desisti de minha primeira faculdade para seguir minha vocação. Há trinta anos sou professor e, se fosse para recomeçar, seria professor novamente. Já fui professor de supletivo, de escola pública, de escola particular, de faculdade particular etc. Minha luta sempre foi pela educação. Já fiz muita greve."

    Na mensagem, Navarro diz ter se sentido ofendido pela frase do aluno: "Disse que meu curso é sucateado. Não percebe quão ofensivo isso foi? Você tem aula com professor titular, bem pago, com livros publicados, com 30 anos de experiência. Tem uma sala de aula com datashow, com retroprojetor. Os funcionários (exceto os terceirizados) ganham bem. Você tem refeições a dois reais, tem auxílio moradia, auxílio alimentação e ainda vem falar em sucateamento?."

    Outros trechos da missiva falam sobre o e-mail: "Você ficou indignado quando eu insinuei que suas notas estão sucateadas? Eu o fiz em particular. Você, porém, ofendeu-me em público. O que é pior?", e "Tentaram boicotar-me para que eu não chegasse a ser professor titular. Sabe quem me salvou? Meus alunos. Sabe por quê? Porque eu só trabalho e luto por eles."

    O professor termina a correspondência: "Eu sinto, sim, que você não está centrado, que não sabe bem o que quer. É inteligente, mas sua energia está dispersa. Eu também já passei por isso e sei como isso é difícil. Não sinto que você tenha entusiasmo pelo que faz. Entra em minha aula só para assinar lista e ir embora. Quero ser seu amigo, pode ter certeza disso. Isso porque acredito que você seja gente boa, mas um pouco desinformado."

    A Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP afirma em e-mail que "o assunto foi levado à Assistência Acadêmica e à Direção da Faculdade, que nada sabiam sobre o ocorrido e levariam o caso à Chefia do Departamento ao qual o docente é vinculado".

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