• Colunistas

    Saturday, 04-May-2024 22:37:24 -03
    Clarice Reichstul

    Minutos de aflição

    08/03/2014 00h01

    Um amigo do Benja, o Felipe, dormiu em casa ontem à noite. Finalmente, por volta das 23h, depois de colocarem o pijama, escovarem os dentes, fazerem xixi e ouvirem uma história, os dois adormeceram -cada um em sua cama, abraçados em seus respectivos bichinhos de pelúcia.

    De manhã cedinho, o Benjamim apareceu no meu quarto. Ele acordou, não conseguiu mais dormir e decidiu ficar por lá mesmo.

    Pouco depois, acordei com um chorinho suave e soluçante. Olhei para o lado e o Benja estava na cama, quase roncando. Será o Felipe?

    Andrés Sandoval
    FOLHINHA - ilustração da coluna Cafuné ***DIREITOS RESERVADOS. NÃO PUBLICAR SEM AUTORIZAÇÃO DO DETENTOR DOS DIREITOS AUTORAIS E DE IMAGEM***

    Era. Ele também acordou cedo e estranhou a cama vazia do amigo a seu lado. Olhou pelo buraco da fechadura do meu quarto e não viu nada. Desceu as escadas, entrou em todos os cômodos da casa e foi ficando aflito. Foi até o quintal, mas lá estavam apenas os gatos. Foi ficando ainda mais preocupado, com um aperto no coração. Tentou abrir o portão da rua: "Será que eles foram embora e me esqueceram?". Não conseguiu, subiu as escadas, procurou o telefone e começou a chorar -não aguentou a pressão.

    Quando o peguei no colo, meu coração apertou. Foi uma das aflições mais intensas que já presenciei, mesmo que tenha durado apenas alguns minutos. É difícil para um adulto consolar o filho de outra pessoa. Não que sejamos incapazes, mas sabemos que todos os afagos e palavras não substituem o toque de uma mãe ou de um pai.

    clarice reichstul

    Escreveu até outubro de 2014

    Formada em cinema pela Faap, tem macaquinhos no sótão, orelhas de abano, língua de trapo e ideias de girino (às vezes de jerico também).

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024