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    Claudia Costin

    Nos novos resultados do Pisa, por que vamos mal em ciências?

    09/12/2016 02h00

    Bruno Santos/Folhapress
    São Paulo, SP, BRASIL-05-05-2016: Estudantes pré vestibular do cursinho Anglo em sala de aula. (Foto: Bruno Santos/ Folhapress) *** ESPECIAIS *** EXCLUSIVO FOLHA***
    Aluno assiste a aula e faz anotações

    Mais uma edição do Pisa teve seus resultados divulgados e não trouxe notícias boas para o Brasil. Nosso desempenho parece ter estagnado. Pior: estagnamos num patamar extremamente baixo. De 73 economias (entre países e cidades participantes), ficamos em 66º lugar.

    A cada três anos, a OCDE, organizadora dessa avaliação, foca uma área diferente entre três ênfases possíveis: leitura, matemática e ciências. Normalmente acrescenta questionários para obter dados para melhor analisar os sistemas educacionais. Na edição de 2015, a área priorizada foi ciências, ou, especificamente, letramento científico.

    É importante entender o que é letramento científico para a OCDE, ou o que ela considera importante que um aluno de 15 anos saiba em ciências. A resposta é simples: pensar cientificamente, utilizar conceitos em problemas reais, entender como se organizam experimentos ou processos científicos– em outros termos, desenvolver uma mente investigativa, base para todas as ciências.

    O Brasil avançou nos últimos anos em assegurar que os jovens dessa idade estejam na escola. Setenta e um por cento dos jovens na faixa dos 15 anos estão matriculados a partir do 7º ano, 15 pontos percentuais a mais que em 2003, numa ampliação impressionante de escolarização.

    Isso poderia trazer uma queda na aprendizagem desses jovens, o que não ocorreu. Seria algo a ser celebrado, mas a oitava economia do mundo não pode comemorar um desempenho tão baixo.
    Na verdade, não vamos avançar enquanto não investirmos em duas linhas de ação: atrair mais talentos para a profissão de professor e formá-los adequadamente por um lado, e, por outro, rever currículos e pedagogia, de forma a ter condições de ensinar os alunos a pensar cientificamente, não apenas a memorizar fórmulas e conceitos.

    Na primeira linha, cabe melhorar os salários dos professores, valorizá-los, para que os melhores alunos de ensino médio desejem cursar pedagogia e licenciaturas. Tornar as faculdades de educação mais profissionalizantes, como são as de engenharia ou medicina e resgatar as didáticas específicas, inclusive a de ciências.

    Na segunda, usar no trabalho com a Base Comum Curricular para diminuir tópicos e disciplinas e priorizar a utilização de conceitos das ciências em problemas reais. Gastar tempo ensinando aos alunos a solução colaborativa de problemas (tema enfocado no Pisa 2015) em que se utilizem conhecimentos das ciências.

    Há muito o que se fazer e certamente chegamos num ponto em que a inação destruirá nosso futuro. Resta agora começar, com coragem, a enfrentar os desafios de uma escola que não funciona.

    claudia costin

    É professora da FGV e professora-visitante de Harvard. Foi diretora de Educação do Bird, secretária de Educação do Rio e ministra da Administração. Escreve às sextas-feiras.

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