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    Claudia Costin

    Universidades globais, combatendo o risco do isolacionismo

    24/02/2017 02h00

    Tsafrir Abayov - 27.jan.2016/Associated Press
    Alunos da Universidade de Tel Aviv, em Israel

    No elevador da Fundação Getúlio Vargas no Rio, encontro um professor com sotaque de Portugal e nos falamos brevemente, sob o olhar atento de outra professora que me esclarece ser albanesa.

    Ao sair, lembrei-me da reunião do Conselho Consultivo da USP, dias antes, quando vi, do prédio da reitoria, um laboratório novo quase pronto, resultante de investimento alemão, nesta que é a melhor universidade do país, ranqueada como a 47ª do mundo em pesquisa científica.

    Vivi esse clima também ao atuar como professora visitante em Harvard. Meus alunos eram dos mais variados países, assim como meus colegas professores e pesquisadores.

    A universidade deve voltar-se para a promoção de ideias que iluminem a experiência humana e tragam um desenvolvimento mais inclusivo para os países. Para tanto, atrair talentos e ampliar o acesso conta muito.

    Garantir, de um lado, que a universidade não ignore as necessidades de seu país e não se limite aos conhecimentos ou reflexões aí presentes. Por outro, ampliar o acesso a seus cursos, assegurando diversidade entre seus alunos.

    Nenhum conhecimento é totalmente autóctone; a humanidade sempre teve interações que proporcionaram o avanço das ciências, mesmo que, em muitos casos, isso tenha se associado a formas de dominação. O isolacionismo ou a busca de uma pesquisa "genuinamente nacional" certamente não são respostas a esse risco.

    A construção de uma universidade global que contribua com um projeto de nação passa basicamente por três fatores. O primeiro diz respeito à relevância dos currículos para garantir, para além do avanço de diferentes campos de pesquisa, empregabilidade e empreendedorismo para seus egressos.

    Outro fator é um sólido controle da qualidade de sua produção e contribuição para a sociedade. O cuidado, nesse caso, é evitar que, em governos não democráticos, o controle de qualidade inclua censura ao labor científico. Há que se garantir liberdade de ensino e pesquisa, sob pena de se perder justamente o que a universidade traz de mais rico.

    No entanto, em sociedades democráticas, não cabe à universidade perceber-se só como centro de resistência. As ditaduras levam instituições de ensino superior a se colocar em trincheiras, mas manter-se eternamente entrincheirado mata a possibilidade de dotá-las de um papel mais propositivo.

    Finalmente, a universidade deve ser permeável tanto aos interesses da sociedade em que atua quanto aos desafios que o tempo traz para o planeta. Para tanto, ela deve contar com um sistema de governança que não seja autorreferenciado. A universidade não será global vivendo numa torre de marfim!

    claudia costin

    É professora da FGV e professora-visitante de Harvard. Foi diretora de Educação do Bird, secretária de Educação do Rio e ministra da Administração. Escreve às sextas-feiras.

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