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    Claudia Costin

    Eleições na França mostram desafios de formar cidadãos para o século 21

    12/05/2017 02h00

    François Mori/Associated Press
    Marine Le Pen, candidata da Frente Nacional à Presidência da França, em comício em Villepinte
    Marine Le Pen, candidata derrotada da Frente Nacional à Presidência da França, em comício

    Concluídas as eleições na França, um sentimento de alívio percorre todos os que acompanhavam atônitos o crescimento do ódio e do preconceito tornados política pública em partes do mundo. A Frente Nacional não venceu e os resultados das eleições regionais na Alemanha também apontaram para uma direção menos preocupante.

    Infelizmente, essa não é toda a verdade. Marine Le Pen teve uma votação expressiva e qualifica-se, assim, para liderar a oposição. Além disso, ao Brexit e ao governo americano somam-se resultados eleitorais recentes na Hungria e na Itália que mostram uma extrema direita forte e amparada em um sentimento popular de despeito a imigrantes, de contrariedade frente a instituições democráticas e de horror à diversidade.

    Ora, é justamente nesse sentimento que reside o risco. O que há por trás dele está ligado à geografia dos votos que elegeram Trump, colocaram o Brexit na agenda e deram força a Le Pen: os "nacionais" que perderam com a globalização.

    Ao ver os mapas de votação de Le Pen, constata-se que seus votos vieram de áreas de grande desemprego e de baixa renda. São franceses que perderam trabalho para a automação e a robotização da economia.

    Temem os estrangeiros que podem vir lhes tomar o emprego e sentem-se incapazes de solidariedade com os que contam com elementos identitários distintos dos que, segundo eles, constituem a França. Há que se erguer muros e devolver essa gente aos países de onde vieram.

    Contra esse sentimento não basta argumentação. Trata-se de um medo real que deve ser enfrentado com determinação, e uma das iniciativas importantes nessa direção é formar pessoas para viver nestes tempos turbulentos.

    Formar cidadãos capazes de empatia e compaixão, de entender o que significa deixar seu país por fome e guerra, de entender o direito do outro em buscar, como fizeram seres humanos em diferentes épocas, inclusive durante e após o Holocausto, novas terras em que se possa reconstruir a vida. Envolve também formar para trabalhos que não serão extintos a curto prazo, num mundo que demanda competências associadas à colaboração, criatividade, adaptabilidade e solução de problemas. Mas será que a educação prepara alunos para o século 21 com todas as suas incertezas?

    No Brasil temos dificuldades na escola para ensinar linguagem e matemática, mas teremos que ousar ir mais longe, ensinando também competências tanto de empatia quanto de solução de problemas. Para isso teremos que reformar não apenas a educação básica, mas a universidade, que continua presa à análise crítica do sistema e divorciada da construção de saídas para os problemas concretos da vida.

    claudia costin

    É professora da FGV e professora-visitante de Harvard. Foi diretora de Educação do Bird, secretária de Educação do Rio e ministra da Administração. Escreve às sextas-feiras.

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